MULHERES EXTRAORDINÁRIAS
(Neide Medeiros Santos – Leitora Votante FNLIJ/PB)
A pintura, mesmo
com o doente calado, permite que você olhe, ainda que pelas frestas, para
dentro do interno.
(Nise da Silveira. O
Globo, 1987).
Duda Porto de Souza e Aryane Carraro escreveram o livro
“Extraordinárias: mulheres que revolucionaram o Brasil”, selo da Editora
Seguinte, 2017 (Companhia das Letras). Nove ilustradoras fizeram o trabalho de
traçar o perfil fisionômico das 44 mulheres que contribuíram para o
engrandecimento das letras, das artes, das causas sociais e da história do Brasil.
Figuram 40 mulheres e quatro “abrasileiradas”. O livro se destina ao público
jovem, mas poderá ser lido de forma prazerosa por todos – mulheres e homens,
jovens e adultos.
Ao longo dos textos, aparecem explicações com o objetivo
de torná-los mais acessível ao leitor.
Nas últimas páginas, encontram-se: “Linha do Tempo. A vida das mulheres
no Brasil”, “Glossário” e informações sobre as autoras e as ilustradoras
......
O livro seguiu uma ordem cronológica temporal. O primeiro nome que desponta nesse variado
universo feminino é o de Madalena Caramuru, a primeira brasileira alfabetizada.
Não se sabe com precisão a data de seu nascimento, existe o registro de seu
casamento em 1554 com o português Afonso Rodrigues. Madalena era filha do
náufrago português Diogo Álvares Correia, casado com a índia Paraguaçu. Somente
no século XVIII as meninas brasileiras passaram a frequentar as escolas, mas
com muitas restrições. Há um fato relevante envolvendo Madalena, ela escreveu
uma carta ao padre Manuel da Nóbrega pedindo o fim dos maus-tratos às crianças
indígenas e o início de uma educação feminina com o aprendizado da leitura e da
escrita. Esse pedido foi levado à rainha de Portugal, mas não foi colocado em
prática. Além de ter sido a primeira mulher brasileira alfabetizada, Madalena
lutou pelos direitos da mulher no século XVI.
A
matriarca da família Alencar, Bárbara de Alencar, é outra figura feminina de
destaque no cenário nacional. Nasceu em Exu (PE) em 1760 e morreu em 1832, em
Fortaleza. Foi uma das primeiras prisioneiras políticas do Brasil. Foi presa
por lutar contra o domínio português. Após a independência do Brasil, Bárbara
continuou contestando o autoritarismo do governo e opondo-se às políticas
centralizadoras da Constituição do Império. O nome de Bárbara Alencar está
gravado no Livro de Aço no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na
Praça dos Três Poderes, em Brasília. No Livro de Aço, estão gravados os nomes dos
heróis e heroínas da Pátria.
Nísia
Floresta é outra nordestina que merece figurar entre as mulheres extraordinárias.
Seu nome verdadeiro era Dionísia Pinto Lisboa, depois de adulta resolveu adotar
o pseudônimo de Nísia Floresta Augusta Brasileira. Natural de Papari (RN)
nasceu em 1810 e morreu em Rouen, na França, em 1885. Por sua inteligência, sua luta pela educação
das mulheres, abolição da escravidão, liberdade para os índios e liberdade
religiosa, Nísia Floresta ultrapassou as fronteiras do Brasil. Era um espírito
revolucionário e publicou o primeiro livro de caráter feminista no Brasil
quando contava apenas 22 anos – “Direitos das mulheres e injustiça dos homens”
(1832). Como educadora, batalhou por uma escola igualitária para meninos e
meninas. . Com o segundo marido, Augusto, criou um educandário feminino no Rio
de Janeiro e oferecia às meninas as mesmas disciplinas que eram ofertadas aos meninos.
Em reconhecimento a seu trabalho pioneiro, a cidade de Papari mudou o nome para
Nísia Floresta.
A
presença da mulher nas artes plásticas do Brasil é recente. Um pouco antes do
brilho de Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, encontra-se a figura de Georgina
de Albuquerque, nascida no interior de São Paulo (1885). Desde pequena, revelava
pendores artísticos. Estudou pintura com o pintor italiano Rosalbino Santoro .
Aos dezessete anos estava tão confiante da sua arte que enviou uma tela de sua
autoria para a ENBA – Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. O
quadro foi considerado excelente e os críticos de arte achavam que se tratava
de uma cópia, viram depois que era um trabalho original. Georgina casou com o
artista plástico Lucilo de Albuquerque e juntos foram estudar em Paris na École
de Beaux-Arts e na Académie Julian. De volta ao Brasil, continuou sua carreira
artística e em 1919 ganhou a Medalha de Ouro por seu quadro “Família”. Ela
abriu caminho para outras pintoras e foi a primeira mulher a dirigir a Escola
Nacional de Belas Artes (ENBA), no Rio de Janeiro.
A
caricatura sempre foi a marca forte de Nair de Teffé. Nascida no Brasil, passou
a infância e adolescência em diferentes países da Europa. Quando voltou a
residir no Brasil estava com dezessete anos e já sabia o que queria fazer –
caricatura. Inicialmente utilizou o pseudônimo de Rian em seus trabalhos. Sua
estreia como caricaturista aconteceu na revista ilustrada Fon-Fon e colaborou
em diversos periódicos e revistas do Rio de Janeiro. Nair foi casada com o
Marechal Hermes da Fonseca que foi presidente do Brasil em concorrida eleição
com Rui Barbosa. Uma das charges mais famosas de Nair é a de
Rui Barbosa que se tornou ridículo aos olhos da caricaturista. Até hoje são
poucas as mulheres que lidam com a caricatura, Nair foi pioneira nessa arte.
Quando
se fala em inovação no campo da psiquiatria brasileira aflora o nome da Dra.
Nise da Silveira, médica alagoana que foi uma revolucionária nas ideias
políticas e na medicina. Presa no governo ditatorial de Getúlio Vargas sob a
acusação de comunista, Dra. Nise conviveu com Graciliano Ramos e Olga Benário
no período em que esteve presa no Rio de Janeiro. Adepta da psicologia junguiana, fundou a Casa
das Palmeiras e deu início a um trabalho terapêutico em prol dos doentes
mentais que foi reconhecido internacionalmente. Ela pregava o tratamento
psiquiátrico através da arte, dos trabalhos manuais e da fraterna convivência
com cães e gatos. É autora de vários
livros, entre eles “Jung: vida e obra”. No estado de Alagoas, a Medalha Nise da
Silveira é concedida a mulheres que se destacam nas letras e nas artes.
Entre
as quatro mulheres abrasileiradas, desponta Dorothy Stang, uma missionária
americana que dedicou quarenta anos de sua vida em defesa do desenvolvimento
sustentável da Amazônia e dos direitos dos camponeses. O brutal assassinato de
que foi vítima comoveu a todos. Seu nome ficou gravado para sempre entre
aqueles que lutaram por um Brasil mais justo, mais fraterno e mais humano.
Há
muitas outras mulheres que desempenharam papéis importantes na história do
Brasil. Você é convidado a ler este livro e conhecer mais um pouco sobre a vida
e o trabalho de outras mulheres extraordinárias.
( Publicado no jornal "Contraponto". Paraíba, fevereiro de 2018)
POEMA
DA SEMANA
MULHER
PROLETÁRIA
MULHER PROLETÁRIA - única fábrica
que o operário tem, (fábrica de filhos)
tu
na tua superprodução de máquinas humanas
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Mulher
proletária
o operário, teu proprietário,
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar teu proprietário.
(
Jorge de Lima. Poemas Escolhidos).
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