sábado, 4 de janeiro de 2014

Uma velha/novahistória

UMA VELHA/NOVA HISTÓRIA
(Neide Medeiros Santos – Leitora-votante FNLIJ/PB)

 A todo instante, recusamo-nos a escutar o ingênuo que existe em nós. Reprimimos a criança que habita em nós e que sempre quer ver pela primeira vez.
(Paul Valéry. O homem e a concha. Variedades).

Há certos livros que gostamos de reler, principalmente quando surge uma nova versão, isso ocorreu com “A bela história do Pequeno Príncipe” (Ed. Agir, 2013), tradução de Ferreira Gullar e de Maria Helena Rouanet. O bonito livro em capa dura, acompanhado de dossiê reunido por Alban Cerisier e Delphine Lacroix, foi um presente natalino que me proporcionou uma leitura documentada dessa velha/nova história e me levou a refletir sobre laços de amizade e o sentido da vida. O objetivo não é analisar o texto, já bem conhecido por todos, mas trazer um pouco dos bastidores de sua concepção.
Em 6 de abril de 1943, surgiu nos Estados Unidos a edição original de “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry. Nessa época, período da 2ª Guerra Mundial, o escritor/aviador estava exilado em Nova York. A editora americana Reynal & Hitchcock foi responsável pela edição original em inglês (The little Prince), saíram também duas edições em francês, uma em brochura e outra encadernada.
Esta bem cuidada edição da editora Agir  é fiel à original americana , a única que foi feita com o autor ainda vivo, 1943, assim como as reproduções dos desenhos.  O livro traz, ainda, três dossiês de renomados críticos, com depoimentos, fotografias e manuscritos do autor. Com o título “Leituras do Pequeno Príncipe”, onze ensaístas discutem o livro com base nos personagens, nos temas e na visão mítica do protagonista.   
“O pequeno príncipe”, desde o início, conquistou os leitores. Os críticos se dividiram quanto à gênese da obra – alguns afirmavam que se tratava de um autorretrato e obra testamentária, outros consideravam que era uma fábula ou conto filosófico com questionamentos sobre a relação do homem com o mundo e com o próximo. Se há variedade de opiniões no que concerne à exegese do livro, existe unanimidade no reconhecimento do valor literário do texto.
Na França, “O pequeno príncipe” só foi publicado em 1946, pela editora Galimard, como obra póstuma, juntamente com  “Cidadela”, do mesmo autor.  O livro logo se tornou um sucesso de público e surgiram, posteriormente, novas traduções. Chegou aos países do leste europeu nos anos 1950-1960, mas sofreu censura na Hungria. O governo proibiu a sua venda sob o argumento de que era uma obra que deformava o gosto das crianças, era uma espécie de conto de fadas irreal e os homens de amanhã precisavam ter os pés no chão. 
Um passeio pelas páginas dessa primorosa edição permite conhecer a maneira de viver de Exupéry nos Estados Unidos no período de 1941 a 1943, quem eram seus amigos durante essa fase, a concepção do livro, os primeiros esboços, os desenhos e aquarelas, as rasuras feitas nos originais.
“O pequeno príncipe” traz uma belíssima dedicatória a Léon Werth, crítico de arte e ensaísta francês. Eis um fragmento dessa dedicatória: “Todas as pessoas adultas foram crianças um dia (mas poucas se lembram disso)”.
Léon Werth era judeu, homem de esquerda, anticolonialista e antimilitarista ferrenho, era grande amigo de Saint-Exupéry. Por ser judeu, sofreu ameaças da política antissemita do governo de Vichy e das autoridades alemães.  “A dedicatória e o epílogo do livro se referem explicitamente ao amigo, à criança que foi e às difíceis condições que ele enfrentava na França.” 
A respeito de Exupéry, Léon Werth afirmou que ele possuía o poder de encantar as crianças e o de persuadir os adultos de que eles eram tão verdadeiros quanto os personagens dos contos de fadas.
O tradutor Ferreira Gullar assegura que foi um dos mais belos livros escritos para crianças que já leu e que tem a capacidade de encantar a todos, sejam crianças ou adultos.  Amélia Lacombe considera que “O pequeno príncipe” devolve a cada um o mistério da infância, é o reencontro do homem com o menino.
 Indico esta nova edição da Agir como leitura para o ano que se inicia. O leitor irá descobrir aspectos nunca antes revelados, conhecer um pouco mais da personalidade deste escritor/aviador, seus amores, sua família e, principalmente, os bastidores dessa história.   

            MENSAGEM DE ANO NOVO.
            Que 2014 traga muitas e boas leituras para todos os leitores -  para aqueles que estão na primeira infância, para aqueles que já atingiram a segunda infância e para aqueles que desejam que a vida seja uma eterna infância.

  



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