sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Novas aventuras de " O menino maluquinho" em HQ



 Novas aventuras de “O menino maluquinho” em HQ

(Neide Medeiros Santos – leitora votante FNLIJ/PB)

O que caracteriza os quadrinhos é sua natureza de arte sequencial que busca integrar vários tipos de linguagem numa mensagem estética organizada com recursos conjuntos de palavras e imagens. Desta interação resulta uma linguagem própria, original e cheia de possibilidades.
(Mônica Fontana. O percurso do sentido nas histórias em quadrinhos). 


“O menino maluquinho”, livro que marcou uma época, foi lançado em 1980 durante a realização da VI Bienal do livro de São Paulo, está, portanto, com 34 anos de vida.  Ziraldo, o criador deste irrequieto personagem, continua escrevendo novas histórias para agrado dos seus inúmeros leitores.
A professora e ensaísta Vânia Maria Rezende, em minucioso estudo sobre Ziraldo – “Ziraldo para crianças e jovens no Brasil: revelações poéticas sob o signo de Flicts” (Paulinas, 2013), afirma que, em 1980, quando “O menino maluquinho” surgiu o clima político era outro, vivíamos no regime militar, mas os anos de endurecimento máximo caminhavam para o fim.
Para Elizabeth Serra, no artigo “Simbolizando a esperança” (Nova Dimensão, 2000), “O menino maluquinho” confirma que a arte de Ziraldo estava engajada no seu momento histórico. Ziraldo foi um dos muitos artistas e intelectuais atuantes na defesa da liberdade de expressão, sendo inegável sua contribuição para as mudanças que ocorreram no panorama da literatura infantil brasileira durante o regime militar.
Os anos se passaram, vivemos em um ambiente democrático, estamos nas primeiras décadas do século XXI e a fonte de criação de Ziraldo parece inesgotável. Maluquinho é um herói brincalhão e cheio de graça.
A editora Globo, através do selo “Globinho”, publicou “Maluquinho de família”, (2013), uma história contada em quadrinhos que revela como foi a infância dos bisavós, avós e dos pais desse personagem.  
 Tudo começou com a sugestão da professora – vamos fazer uma pesquisa sobre a vinda da  família real ao Brasil. Maluquinho convidou Bocão para  um trabalho em conjunto, mas a professora foi categórica: “O trabalho é individual, cada um faz o seu”. O menino começou a imaginar uma série de acontecimentos ligados à família real no Brasil, ele sempre figurando como protagonista, depois resolveu pesquisar o seu passado, sua história seria diferente –  ia construir a árvore genealógica da  família.
Primeiro procurou a mãe: “Manhêêê... cadê o meu passado?” A mãe ficou perplexa, não sabia o que responder, mas o avô veio em socorro e disse: “Olha o seu passado aqui!” e abriu os braços para o neto que sentiu que ali estava a salvação.
O primeiro passo foi dar um passeio pela oficina do avô que era uma verdadeira bagunça. De repente, aparece um álbum de fotografias antigas, era   a porta que se abria para  mostrar o passado da família.
No álbum antigo de fotografias, o menino viu a foto da bisavó, “uma cozinheira de mão-cheia”, na explicação do avô. O bisavô era o melhor vendedor de jornais da cidade e seu posto de vendas ficava na esquina da igreja ao lado do moço que consertava panelas. Uma volta  ao  passado e vamos encontrar o bisavô menino com uma panela na cabeça, depois   tomando banho no rio utilizando as bacias que as lavadeiras usavam para lavar roupa. As diabruras vêm de longe!
O avô tinha mania de catar ferro velho quando era criança, saía pela cidade e se esquecia de voltar para casa, a avó procurava o menino pela cidade toda. Qual era o objetivo de juntar ferro velho? Ele queria construir um foguete e entrar na corrida espacial, competir com os russos e os americanos. Será que ele pensava em chegar à lua? Isso não ficou esclarecido, mas é provável.
No álbum da família havia muitos retratos, entre eles o do casamento do avô de “mentirinha”, sim, um casamento junino, quando era bem criança,  o  outro era o “verdadeiro”. Para chegar a esse casamento de verdade, o avô enfrentou muitos perigos - o pai da moça era bravo, precisava muita cautela. Dessa união nasceu a belezura que aí está – sua mãe. E o avô apontou para a mãe do maluquinho.
A mãe era louca por danceteria, só queria saber de dançar, entrou até em um concurso de dança e era a mais “espertinha, a mais bonitinha, a mais alegrinha”. E como não podia deixar de ser – a mãe conheceu o pai em uma danceteria, em uma noite  em que o e   céu estava  muito bonito e havia muita  música.
No princípio do namoro, o avô não gostava muito do namorado da filha, mas o rapaz descobriu o fraco do velho – era doido por futebol, estava dado o primeiro passo, primeiro foi jogador de futebol, depois juiz e conquistou o coração do sisudo pai.
É bom lembrar que o bisavô, avô e o pai foram crianças também maluquinhas e nas páginas desse livro em HQ estão contadas várias peripécias e aventuras dessa turma que gostava de aprontar, tudo com a marca inconfundível do traço de Ziraldo. 
Quanto à pesquisa, ela foi concluída, o menino maluquinho fez a apresentação em sala de aula, desenhou a árvore genealógica da família e o trabalho foi muito elogiado pela professora.

(Nota: este texto vai para Moacy Cirne (in memoriam), estudioso dos quadrinhos e que considerava Ziraldo um dos melhores quadrinistas do Brasil). 

sábado, 4 de janeiro de 2014

Uma velha/novahistória

UMA VELHA/NOVA HISTÓRIA
(Neide Medeiros Santos – Leitora-votante FNLIJ/PB)

 A todo instante, recusamo-nos a escutar o ingênuo que existe em nós. Reprimimos a criança que habita em nós e que sempre quer ver pela primeira vez.
(Paul Valéry. O homem e a concha. Variedades).

Há certos livros que gostamos de reler, principalmente quando surge uma nova versão, isso ocorreu com “A bela história do Pequeno Príncipe” (Ed. Agir, 2013), tradução de Ferreira Gullar e de Maria Helena Rouanet. O bonito livro em capa dura, acompanhado de dossiê reunido por Alban Cerisier e Delphine Lacroix, foi um presente natalino que me proporcionou uma leitura documentada dessa velha/nova história e me levou a refletir sobre laços de amizade e o sentido da vida. O objetivo não é analisar o texto, já bem conhecido por todos, mas trazer um pouco dos bastidores de sua concepção.
Em 6 de abril de 1943, surgiu nos Estados Unidos a edição original de “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry. Nessa época, período da 2ª Guerra Mundial, o escritor/aviador estava exilado em Nova York. A editora americana Reynal & Hitchcock foi responsável pela edição original em inglês (The little Prince), saíram também duas edições em francês, uma em brochura e outra encadernada.
Esta bem cuidada edição da editora Agir  é fiel à original americana , a única que foi feita com o autor ainda vivo, 1943, assim como as reproduções dos desenhos.  O livro traz, ainda, três dossiês de renomados críticos, com depoimentos, fotografias e manuscritos do autor. Com o título “Leituras do Pequeno Príncipe”, onze ensaístas discutem o livro com base nos personagens, nos temas e na visão mítica do protagonista.   
“O pequeno príncipe”, desde o início, conquistou os leitores. Os críticos se dividiram quanto à gênese da obra – alguns afirmavam que se tratava de um autorretrato e obra testamentária, outros consideravam que era uma fábula ou conto filosófico com questionamentos sobre a relação do homem com o mundo e com o próximo. Se há variedade de opiniões no que concerne à exegese do livro, existe unanimidade no reconhecimento do valor literário do texto.
Na França, “O pequeno príncipe” só foi publicado em 1946, pela editora Galimard, como obra póstuma, juntamente com  “Cidadela”, do mesmo autor.  O livro logo se tornou um sucesso de público e surgiram, posteriormente, novas traduções. Chegou aos países do leste europeu nos anos 1950-1960, mas sofreu censura na Hungria. O governo proibiu a sua venda sob o argumento de que era uma obra que deformava o gosto das crianças, era uma espécie de conto de fadas irreal e os homens de amanhã precisavam ter os pés no chão. 
Um passeio pelas páginas dessa primorosa edição permite conhecer a maneira de viver de Exupéry nos Estados Unidos no período de 1941 a 1943, quem eram seus amigos durante essa fase, a concepção do livro, os primeiros esboços, os desenhos e aquarelas, as rasuras feitas nos originais.
“O pequeno príncipe” traz uma belíssima dedicatória a Léon Werth, crítico de arte e ensaísta francês. Eis um fragmento dessa dedicatória: “Todas as pessoas adultas foram crianças um dia (mas poucas se lembram disso)”.
Léon Werth era judeu, homem de esquerda, anticolonialista e antimilitarista ferrenho, era grande amigo de Saint-Exupéry. Por ser judeu, sofreu ameaças da política antissemita do governo de Vichy e das autoridades alemães.  “A dedicatória e o epílogo do livro se referem explicitamente ao amigo, à criança que foi e às difíceis condições que ele enfrentava na França.” 
A respeito de Exupéry, Léon Werth afirmou que ele possuía o poder de encantar as crianças e o de persuadir os adultos de que eles eram tão verdadeiros quanto os personagens dos contos de fadas.
O tradutor Ferreira Gullar assegura que foi um dos mais belos livros escritos para crianças que já leu e que tem a capacidade de encantar a todos, sejam crianças ou adultos.  Amélia Lacombe considera que “O pequeno príncipe” devolve a cada um o mistério da infância, é o reencontro do homem com o menino.
 Indico esta nova edição da Agir como leitura para o ano que se inicia. O leitor irá descobrir aspectos nunca antes revelados, conhecer um pouco mais da personalidade deste escritor/aviador, seus amores, sua família e, principalmente, os bastidores dessa história.   

            MENSAGEM DE ANO NOVO.
            Que 2014 traga muitas e boas leituras para todos os leitores -  para aqueles que estão na primeira infância, para aqueles que já atingiram a segunda infância e para aqueles que desejam que a vida seja uma eterna infância.