sábado, 2 de novembro de 2013

O lavrador de Ipanema: contos de amor á natureza




“O lavrador de Ipanema: contos de amor à natureza”
(Neide Medeiros Santos – Leitora Votante da FNLIJ/PB)

Se uma criança pudesse fazer um mapa de uma cidade – pensava eu, olhando o pé de romã – ele teria menos casa e mais bichos.
(Rubem Braga. O lavrador de Ipanema).

Há livros que cativam o leitor no primeiro olhar - “O lavrador de Ipanema” (Record: 2013) é um desses livros que ficamos apaixonados só em examiná-lo exteriormente. A capa é uma verdadeira obra de arte, projeto gráfico de Leonardo Iaccarino e ilustrações do premiado artista Andrés Sandoval. As ilustrações que antecedem os textos são belos quadros que retratam flores e frutas. O autor dos textos é o cronista Rubem Braga.
Este ano se comemora 100 anos do nascimento de Rubem Braga e o cronista sempre declarou e registrou em suas crônicas o amor à natureza,  chegou a transformar a cobertura do seu apartamento em um verdadeiro pomar, por isso Paulo Mendes Campos denominou-o “lavrador de Ipanema”. O livro da Record é um presente para os leitores e uma justa homenagem a quem revelou, em suas crônicas, uma verdadeira paixão pelo verde.  
Esta primorosa edição da Record traz Nota da editora assinada por Guiomar Grammont, Apresentação de Januária Cristina Alves e Leusa Araújo, crônicas de Rubem Braga escritas em tempos diversos e o texto biográfico - Rubem Braga em dez tempos.  
            O texto “Rubem Braga em dez tempos” apresenta uma biografia do autor, mas de modo bem original; as datas servem apenas como marco referencial para que o leitor situe certos fatos relacionados com a vida do cronista.
Através desse texto ficamos sabendo que, por suas posições contrárias ao integralismo e ao presidente Getúlio Vargas, Rubem Braga foi perseguido, preso e obrigado a assinar seus textos com pseudônimos. Na 2ª. Guerra Mundial, viajou para Itália como correspondente do Diário Carioca e foi o único correspondente de guerra a acompanhar a batalha de Monte Castelo. Amante da liberdade, Rubem Braga também denunciou, em suas crônicas no Jornal do Brasil, a violência cometida pela ditadura militar nos porões do Dops, isso causou mal-estar á direção do JB, fato que o obrigou a sair do jornal.
             Foram selecionadas 14 crônicas para este livro.  Cada crônica apresenta uma ilustração de Andrés Sandoval. Folhas, flores e frutas diversas se espalham pelas páginas desse bonito livro. Algumas crônicas são bem conhecidas como “Um pé de milho” e “O cajueiro”, esta última me fez retornar ao tempo em que lecionava Literatura Brasileira na antiga ETFAL. “O cajueiro” foi lido e comentado durante as nossas aulas. Os alunos gostavam muito desse texto, um deles chegou a escrever uma bela paráfrase a partir da crônica sentimental de Rubem Braga. O herói sacrificado não foi um cajueiro, mas um pé de maracujá. Bons tempos!
            ”Árvore” foi escrita quando Rubem Braga morava em Santiago do Chile e a imaginação do cronista voa como os pássaros. Ele compara o álamo que ficava junto à calçada do seu jardim a uma moça muito branca, de olhos verdes. E assim conclui essa crônica:  
“[...] o álamo junto do portão tem um vigor e uma pureza que me fazem bem pela manhã, como se todas as manhãs, ao abrir a janela, eu visse uma jovem imensa, muito clara, de olhos verdes, de pé, sorrindo para mim.” (2013: p. 63). Esta crônica traz a data de 1955.
Qual seria a profissão ambicionada por aquele homem simples? Resposta: “Protetor da natureza”. Ele jamais tivera um cargo público, mas gostaria muito de ser considerado um protetor da Natureza, protetor com p minúsculo, mas Natureza com N maiúsculo. E vem o pedido daquele pobre homem – não matem as borboletas azuis. Matar borboletas para viver! É horrível isso!
Quem se chamava Amarelo? Seria um menino pálido, magrinho? Ele era o maior amigo da infância de Rubem Braga. Impossível dizer quando nasceu, e permanece até hoje no mesmo local, mas já não é o mesmo, o tempo foi implacável - estava ali magrinho, tão sumido tão feio que cortou o coração do cronista. Seu amigo da infância não era um menino que hoje está velho, era o rio Amarelo que passava pertinho de sua casa e depois ia colocar suas águas no rio Itapemirim.
Há uma crônica bem antiga, é de 1935 – “Chegou o outono”, é do tempo em que o Rio de Janeiro era cortado por bondes. Como era gostoso andar no reboque do bonde na Rua Marques de Abrantes e ainda por cima era outono, o vento sacudia as folhas amarelas pelo chão. 
Este pequeno livro de Rubem Braga deveria ser adotado nas aulas de Geografia, de Literatura e de Direito Ambiental, os alunos aprenderiam a amar a Natureza e a ser lavrador de seu próprio bairro, da sua escola, da sua casa.
( Texto publicado no jornal “Contraponto”. João Pessoa, Paraíba, 01 a 17 de novembro de 2013, B-4.).

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