O
BICHO PREGUIÇA E A FLORESTA
(Neide Medeiros Santos –
Crítica literária FNLIJ/PB)
A natureza, arte de
Deus, supremo artifício,
não a retoques.
Humildemente aceita-a.
(Daniel Lima. Poemas).
No momento em que João Pessoa é sede da exposição de Frans
Karjcberg, nada mais oportuno do que falar sobre um livro que vem conquistando
o mundo infantil com seu “grito” para que a natureza seja preservada. Refiro-me
ao livro ilustrado por Anouck Boisrobert e Louis Rigaud, com texto de Sophie
Strady – “Na floresta do bicho-preguiça” (Ed. Cosac Naify, 2011), tradução de
Cássio Silveira.
É o primeiro livro “pop-up” da Cosac Naify, livro-brinquedo
com dobraduras. É um jogo, um convite à criança para explorar a floresta e
procurar o bicho-preguiça escondido entre as árvores.
No Brasil, este livro ganhou o Prêmio de Melhor Livro
Brinquedo da FNLIJ. Na quarta capa, aparece um texto escrito por Ana Maria de
Niemeyer Cesarino alertando para a devastação das florestas no mundo. Esta devastação
ameaça várias espécies de animais, entre elas o bicho-preguiça do Brasil.
“Na floresta do bicho-preguiça”, começa com a
apresentação da floresta em sua plenitude – “tudo é verde, tudo é vida”. É nesse universo verdejante que o
bicho-preguiça se balança sossegado entre as folhas. Pouco a pouco a paisagem vai sendo
modificada, a floresta estremece, máquinas com garras horríveis arrancam as
primeiras árvores. Os pássaros abandonam seus ninhos, somente o bicho-preguiça
parece indiferente a esta mudança.
Diante
da fúria da máquina assassina, os mamíferos fogem assustados, as serpentes
rastejantes escapam pelo chão quase deserto. E vem a pergunta que irá se
repetir mais adiante: “você consegue ainda ver o bicho-preguiça?”
Por fim, resta apenas uma árvore e lá está pendurado o
animalzinho solitário. Surge uma voz misteriosa: “bicho-preguiça, acorde! fuja
daqui! salve-se!” .
A página que se segue mostra a terra nua, sem vida. A
floresta desapareceu e ninguém vê mais o bicho-preguiça. No cantinho da página,
bem embaixo, aparece a figura de um homem – ele conduz um saco em uma das mãos e joga alguma coisa no ar com a outra mão. O que será? Serão sementes?
Sim, são sementes. O homem resolveu plantar uma nova
floresta, é um trabalho árduo, requer tempo e paciência, mas o homem é
perseverante. Nessa mesma página, se o leitor puxar uma tirinha de papel para
baixo (ela está presa no final da página) irá encontrar brotos de novas plantas
surgindo. Pendurado em uma pequena árvore está o animalzinho preguiçoso.
Na última página, surge a floresta em toda sua plenitude.
Araras azuis cortam o céu, mamíferos passeiam no meio das árvores. Não é a
mesma floresta da primeira página, está menos densa, algumas árvores são
novinhas, precisam de mais algum tempo para crescer. O difícil é encontrar agora o bicho-preguiça.
Será que o leitor consegue vê-lo?
O desfecho do livro é cheio de esperança, o homem semeou as
sementes, elas germinaram e a floresta renasceu cheia de graça e de vida. O
tempo estava escuro, mas apareceu alguém que acreditou na “possibilidade do
homem construir um mundo melhor”.
Tudo neste livro foi planejado de modo ecológico – o
papel utilizado veio de floresta gerenciada e ambientalmente correta. As tintas
empregadas para dar colorido ao livro - marron e verde - foram produzidas a
partir de tinta de soja.
É válido registrar esta advertência de Ana Maria de
Niemeyer Cesarino:
“Nos dez últimos anos, treze milhões de hectares de
florestas desapareceram no mundo, essa destruição ameaça a sobrevivência de
inúmeras espécies, entre elas o bicho-preguiça do Brasil.”.
Felizmente, ainda contamos com ardorosos defensores da
nossa flora e fauna – o artista plástico Frans Krasjcberg e Thiago de Mello
figuram entre os defensores da natureza e enquanto houver uma voz no deserto
clamando pela salvação da floresta resta uma esperança.
Se livro para criança pode ser considerado um brinquedo e
um bom presente, “Na floresta do bicho-preguiça” é um presente que irá agradar
às crianças, aos professores e aos pais que irão ler junto com os filhos,
interagir com eles e sentir a gravidade do desmatamento desenfreado e
insensível que assola nosso planeta. É preciso ensinar as crianças o amor à
natureza, não é necessário retocá-la, aceita-a.
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