sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS: O VOO DO PÁSSARO


BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS: O VOO DO PÁSSARO
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)
Madrugada silente,
ouve-se apenas
o canto solitário de um pássaro.
Depois...
um ruflar de asas
e o voo para o infinito.

Conheci Bartolomeu Campos de Queirós na Bienal Nestlé de São Paulo nos idos de 1990. O auditório Rebouças, local das conferências, estava lotado com todas as cadeiras ocupadas, fiquei em uma sala situada ao lado do auditório em frente a um telão e, através da tela, via e ouvia aquele escritor de gestos pausados e voz melodiosa falar sobre seus primeiros contatos com o livro. Gravei esta frase poética pronunciada naquela ocasião:
O primeiro livro que li foi o papel roxo da maçã que meu pai trazia como presente de longas viagens. A gente punha o papel roxo debaixo do travesseiro, sentia o cheirinho e ficava imaginando uma terra onde brotassem macieiras.
Depois vieram outros encontros – Congresso de Leitura (COLE, UNICAMP), Salão do Livro (Rio de Janeiro), mas os melhores encontros foram com os livros desse “menino poeta”.
Em 2008, “Tempo de voo” foi vencedor do Prêmio Ibero-Americano SM de Literatura Infantil. Em 2009, ganhou o Prêmio da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), no Concurso de Literatura InfantoJuvenil Glória Pondé. Tive a grande alegria de participar, juntamente com Elizabeth d´Ângelo Serra e Mariza de Almeida Borba (FNLIJ/Rio de Janeiro), do júri deste concurso. Sobre este livro, escrevemos comentário na coluna “Livros&Literatura”, no jornal Contraponto, 18 a 24 de dezembro de 2009, B2
Ainda, no jornal Contraponto (24/06/2011 – B6), publicamos o artigo “Vermelho: a cor da amargura” sobre o último livro de Bartolomeu Campos de Queirós – “Vermelho amargo” (Cosac Naify, 2011).
“Vermelho Amargo” é um livro que fala de perdas, de partidas, de vazio, do obscuro filtrado pelas frestas das janelas. Se a linguagem é intérprete de estados interiores, o estilo convulsivo e soluçante conota, na real acepção da palavra, a verdadeira dor da existência.
Para um melhor conhecimento do “menino poeta”, recomendamos a leitura dos seus livros, principalmente aqueles de caráter autobiográfico: Ciganos, Indez, Por parte de pai, Ler, escrever e fazer conta de cabeça e O olho de vidro do meu avô.
O escritor gostava muito de passarinhos e escreveu dois belíssimos livros com essa temática – “Para criar passarinho” e “Até passarinho passa”. A comovente história “Até passarinho passa” vem revestida de lições de vida, de reflexões filosóficas. Se encontrar um amigo é encontrar um tesouro, o que dizer se esse amigo é cauteloso, constante, fiel? Como suportar a dor da partida? De forma sutil, o narrador leva o leitor a refletir sobre a efemeridade da vida, a alegria do encontro e a tristeza da partida.
A prosa poética de Bartolomeu Campos de Queirós percorre os “labirintos da memória”, principalmente a memória da infância – lembranças da mãe que partiu muito cedo e gostava de cantar modinhas do além-mar; lembranças do pai que era indiferente à solidão do filho; da irmã que bordava com agulha fina e sabia tecer flores e espinhos presos nos ramos como um pintor de natureza morta, e lembranças do avô que tinha um olho de vidro que” visitava lugares que o olhar não alcançava”.
A ensaísta Stella de Moraes Pellegrini, no livro “Caminhos e Encruzilhadas. O percurso poético e político de Bartolomeu Campos de Queirós, da formação do leitor à formação de leitores” (Ed. RHJ, 2005), ressalta que os textos de Bartolomeu são poéticos, políticos e revelam uma profunda preocupação com a formação de leitores e a construção de uma escola leitora. A maior prova do envolvimento do escritor com a educação brasileira está na publicação do “Manifesto por um Brasil literário” (FLIP, junho de 2009).
A vida, o pensamento, a visão de mundo do escritor mineiro estão presentes nos inúmeros livros que escreveu. Com mais de 50 livros publicados, Bartolomeu Campos de Queirós expôs para os leitores sua infância dolorida (perdeu a mãe quando contava entre seis e sete anos de idade), sua “fé cansada”, seu “silêncio limpo”, sua “solidão”, para repetir palavras do poeta Carlos Pena Filho, em “Poema de Natal”.
Bem-humorado, apreciador do silêncio, Bartolomeu costumava se definir assim: “Sou frágil o suficiente para uma palavra me machucar, como sou forte o bastante para uma palavra me ressuscitar”.
Em tempo: Liz Page, diretora executiva do IBBY (International Board Books for Young People), em comunicação enviada à FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil), informou a manutenção do nome de Bartolomeu Campos de Queirós como candidato do Brasil para o Prêmio Hans Christian Andersen 2012. O nome do vencedor será divulgado durante a realização da Feira de Livros Infantis em Bolonha (Itália, 19 a 23 de março de 2012) e o prêmio será entregue no Congresso IBBY (Londres, 23 a 26 de agosto de 2012). Que o grande Prêmio Internacional venha, mais uma vez, para o Brasil.
( Texto publicado no jornal “ Contraponto”, em 27 de janeiro de 2012)

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