sábado, 17 de dezembro de 2011

Crônicas ambientais: um mundo cheio de cores, cheiros e sons





Crônicas ambientais: um mundo cheio de cores, cheiros e sons
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)

Impregne um pouco a sua alma
do verde que está no ar.
(Jomar Morais Souto. Itinerário Lírico da Cidade de João Pessoa)

Quem passa pela Avenida Beira-Rio em João Pessoa-PB observa que os paus d´arco róseos estão todos floridos. Isso nos transporta para um tempo em que a cidade era coberta de verde e de flores. As residências tinham jardins floridos, com cheiros de jasmins e cantos de passarinhos. Os tempos mudaram ... hoje apenas os paus d´arco da Beira Rio, da Lagoa e da Mata do Buraquinho teimam em oferecer, na época natalina, um colorido róseo e amarelo. As casas foram substituídas por edifícios, são construções sem alma e sem passarinhos.
Essas divagações surgiram após a leitura do livro de Luiz Eduardo Cheida – “Bichos, plantas e seus parentes – crônicas ambientais”, da Editora Aymará, com prefácio de Marina Silva.
No prefácio do livro, Marina relembra sua infância e adolescência no Seringal Bagaço que ficava a 70 km da capital do Acre. Vivia em um mundo cercado por uma imensa floresta. O barulho das abelhas mangangás na copa das castanheiras é uma das suas primeiras memórias e sobre este mundo da infância afirma: “Era um mundo cheio de cores, de cheiros e de sons”.
As crônicas ambientais do médico e escritor Luiz Eduardo Cheida levam o leitor a mergulhar no passado e traz de volta o paraíso perdido por Marina. São 40 crônicas de assuntos variados: há uma alga que se emociona, um cachorro que joga baralho, uma árvore que filosofa, uma abelha que aprende e o homem que dialoga com todos eles, afinal homens, bichos e plantas são todos parentes.
O conto/crônica “As Pombas” é o relato de uma invasão de pomba-amargosa em uma região do Paraná. Elas estavam acabando com o milharal de seu Fulgêncio e dona Constantina. Depois de várias reuniões e discussões, os sitiantes chegaram a uma conclusão – para acabar com as pombas só trazendo o gavião de volta. Consultado, o gavião impôs uma condição: “Plantem árvores. Ninho em poste de telefone eu não faço.” (p.24)
O desejo do gavião foi satisfeito e como diz Guimarães Rosa: “Pôs-se a fábula em ata”.
A pergunta inocente de uma criança de quatro anos na crônica “Sociedade de risco” (p.99) pode suscitar inúmeras reflexões.
“ – ÁRVORE, QUANDO MORRE, também vai para o céu?” (p. 99)
“Bye bye bee” (p. 137) revela a preocupação do cronista com o desaparecimento das abelhas e a extinção de muitas espécies. Revistas especializadas afirmam que, nos últimos dois anos, 37% das colmeias desapareceram nos Estados Unidos. No Brasil, também houve perdas, o mesmo acontecendo na Austrália, na China e no Canadá.
E qual foi o motivo para o desaparecimento das abelhas? Querem saber? O motivo é muito simples – faltam flores na natureza, estão destruindo as matas. Os herbicidas, fungicidas e inseticidas também matam as abelhas.
Atualíssima é a crônica “Cadê meu zap”?(p.145). Trata do problema dos agrotóxicos nas verduras e frutas. Nesta crônica, involuntariamente, o pimentão é o vilão. Em uma escala de zero a cem, o pimentão fica com 64, 36% de agrotóxico, seguindo do morango, cenoura, alface, tomate.
Crônicas que falam sobre a destruição das matas, que lamentam a ausência das flores, nos transportam para uma gravura do pintor paraibano Hermano José – “Cabo Branco até quando...”
O pintor Hermano José é amante da natureza e defensor ferrenho da preservação da barreira do Cabo Branco. Nos anos de 1970, ele já alertava para o perigo da destruição das nossas matas e os cuidados com a barreira do Cabo Branco.
A respeito da gravura “Cabo Branco até quando...”, a professora e crítica de arte Terezinha Fialho assim se expressou:
“A gravura de Hermano José, uma sanguínea, é belíssima [...] O quadro é um grito, uma denúncia de amante profundamente ferido. Defendo a tese de que bastaria este quadro para provar, se necessário fosse, o amor-devotamento de Hermano José pelas falésias, pelo mar.”
O texto de Terezinha Fialho – “Hermano José, as falésias e o mar” se encontra no livro” Hermano José”. FMC: Textoarte. João Pessoa, 2004.
Começamos com uma epígrafe do poeta Jomar Morais Souto, um hino de louvor ao verde da cidade de João Pessoa, apresentamos fragmentos das crônicas ambientais de Luiz Eduardo Cheida e concluímos com a denúncia do quadro de Hermano José.

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