sábado, 12 de dezembro de 2009

NATAL: tempo de leitura e releitura




LIVROS & LEITURAS
NATAL: tempo de leitura e releitura
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária da FNLIJ/PB)

Mudaria o Natal ou mudei eu?
(Machado de Assis. Soneto de Natal)

Harold Bloom, crítico literário norteamericano, publicou uma coleção de quatro livros com o título – Contos e Poemas para crianças extremamente inteligentes de todas as idades – que foi traduzido por José Antônio Arantes e publicado pela Editora Objetiva.
Cada volume traz selo de uma estação do ano. Volume 1 – Primavera; volume 2- Verão; volume 3 – Outono; volume 4 – Inverno.
Na apresentação do primeiro volume, o autor discorre sobre o critério de seleção dos contos, fábulas e poemas que integram o universo antológico da coleção.
Foram incluídos 39 contos e fábulas e 74 poemas. Lewis Caroll, o autor de Alice no país das maravilhas, comparece com o maior número de textos. (Louvemos Monteiro Lobato que, nos anos 30, do século XX, teve a perspicácia de traduzir Alice no país das maravilhas para as crianças brasileiras).
E vem esta afirmativa de Bloom que reflete, também, o pensamento de Antonio Candido e Ana Maria Machado, escritores já citados em textos apresentados nesta coluna:
Não concordo com a categoria literatura para criança ou literatura infantil, que teve algum mérito no século passado, mas que agora é, muitas vezes, a máscara de emburrecimento que está destruindo nossa cultura literária. (2003:12, 1º. volume).
O crítico afirma, ainda, que os livros que leu quando tinha entre cinco e 15 anos de idade continuam sendo lidos aos 70 anos. São aqueles livros que não envelhecem, é “novidade que permanece novidade”.
Nessa introdução, Bloom explica o porquê do surgimento da antologia. Quando começou a trabalhar em Por que ler, pensou em escrever um livro para leitores jovens e foi buscar, nas suas leituras infantis e juvenis, aqueles textos que encantaram o “menino solitário”.
A introdução do livro é um verdadeiro passeio pelas leituras e pela vida de Harold Bloom. Se os textos citados pelo renomado crítico nem sempre estão disponíveis para os leitores brasileiros, a leitura dos textos coletados constitui “pequenas pérolas” literárias que merecem ser lidas e relidas.
Agora, vamos deixar o livro de Bloom, passear pela literatura brasileira e relembrar escritores e poetas que estão à espera de leitores.
Podemos começar pelos livros do maior clássico da literatura brasileira – Machado de Assis. Que tal a leitura do Soneto de Natal? Dom Casmurro merece uma releitura. Sempre descobrimos algo de novo nos textos machadianos. Machado é um manancial inesgotável, que o diga Moacyr Scliar que já fez recriações de vários textos machadianos.
E São Bernardo, de Graciliano Ramos? Quanta beleza encontramos no capítulo 17 deste livro! Como estamos em tempo de floração dos paus d´arco nas ruas de João Pessoa, é válido transcrever este belo texto do escritor alagoano:
Estávamos em fins de janeiro. Os paus-d´arco floridos salpicavam a mata de pontos amarelos; de manhã a serra cachimbava; o riacho, depois das últimas trovoadas, cantava grosso, bancando rio, e a cascata em que se despenha, antes de entrar no açude, enfeitava-se de espuma.
José Américo de Almeida escreveu um bonito livro sobre a cidade de João Pessoa. Cidade de João Pessoa- roteiro de ontem e de hoje que recebeu uma reedição com o patrocínio da Prefeitura da cidade de João Pessoa e ilustrações em aquarela de Sóter Carreiro.
Vejamos um pequeno excerto do texto O que se mostra, inserido no livro citado:
A lagoa do Parque Sólon de Lucena, velho sítio dos jesuítas, circulada da Palmeiras Imperiais, é o ponto de mais atração da cidade.
O pau d´arco que arboriza este parque cobre-se de ouro na sua estação e o bambual esconde um restaurante. Junto está o busto de Augusto dos Anjos, o extraordinário poeta do “Eu”.
A paisagem pode ter sofrido algumas modificações, mas os paus d´arco e o busto de Augusto dos Anjos continuam resistindo ao tempo enfeitando a Lagoa.
Nesse itinerário literário, Augusto dos Anjos não pode ser esquecido. O livro com todos os sonetos do poeta é um presente bem-vindo. Há poemas de Augusto dos Anjos que primam pela beleza poética e lembramos: Vandalismo, A árvore da serra e Ricordanza della mia gioventú.
Para não despertar ciúmes, citei apenas os escritores mortos, mas entre os autores vivos há muita coisa boa nas livrarias. Aproveite as festas natalinas e compre livros

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