sábado, 6 de junho de 2009

Paulo Nunes Batista: o pescador de lembranças

Paulo Nunes Batista: o pescador de lembranças

(...)
o que sei do tempo
é que hoje tem mais ontem.
(Lúcio Lins. Passeios pelo tempo 3).

Samburá da Parahyba, livro do poeta paraibano Paulo Nunes Batista atualmente radicado em Anápolis (GO), reúne cinquenta e nove poemas e representa cinquenta e seis anos dedicados à poesia e à literatura. Sonetos e poemas mais longos passeiam pelas páginas do livro, entremeados com alguns textos em prosa.
Paulo Nunes Batista nasceu em João Pessoa, na Rua da República, e ali viveu parte de sua infância. Seu pai, Francisco das Chagas Batista, era poeta cordelista e proprietário da Livraria Popular Editora. Além de editar e publicar inúmeros folhetos de sua autoria e de poetas amigos, a livraria vendia livros usados aos estudantes pobres. Foi, portanto, nesse ambiente de livros e de poesia que o menino Paulo passou a admirar a figura do pai/poeta e a amar a literatura de cordel.
Paulo Nunes Batista é exímio na composição de ABCês. No livro Samburá da Parahyba, o poeta não selecionou nenhum ABC do seu rico repertório, sua veia poética se voltou para os poemas e sonetos que falam de um passado vivido e sonhado nas terras paraibanas. As águas mornas das praias de Tambaú, Cabo Branco, Praia da Penha e Ponta de Seixas são decantadas em versos com a mestria de um seresteiro nordestino.
O samburá é um cesto utilizado pelos pescadores para pescar peixes, mas o poeta paraibano se utiliza do samburá para pescar palavras e vai tecendo, pacientemente, um traçado de galhos (palavras) como se fosse um pescador de lembranças. A leitura de alguns poemas e citamos, entre outros, “Praia da Penha”, “Soneto em Cabo Branco”, “Tarde em João Pessoa” e Minha Terra” remete o leitor para um passado” guardado na algibeira”.
Cora Coralina, poetisa das terras de Goiás, disse em um de seus poemas:
Não morre aquele
que deixou na terra
a melodia de seu cântico
na música de seus versos.
(Cora Coralina. Meu Epitáfio).

Paulo Nunes Batista, com a “melodia de seu cântico e a música de seus versos”, certamente terá o mesmo destino apregoado pela musa goiana.

Cabo Branco, 20 de janeiro de 2009.
( Texto de Apresentação do livro Samburá da Parahyba. João Pessoa: Ed. Ideia, 2009)

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