sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Nas Trilhas de Clarice e Beatriz


Nas Trilhas de Clarice e Beatriz

 

(Neide Medeiros Santos – Crítica literária da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil na Paraíba)

 

As palavras vão e vêm levando

sentimentos e afetos. Estamos tão longe, e, ao mesmo tempo,

tão perto!

(Eloí Elisabete Bocheco)

 

Eloí Elisabete Bocheco é professora e escritora de livros infanto-juvenis. Durante 13 anos, publicou crônicas no jornal “A Notícia”, de Joinville (SC). Algumas dessas crônicas foram reunidas em livro e publicadas com o título “Pedras Soltas” pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina. São textos revestidos de muita poeticidade. Peter O´Sagae, editor de “Dobras da Leitura”, foi muito feliz no comentário que fez sobre este livro: 

“As crônicas mostram seu bordado: não vem à toa nenhuma frase, por mais travestida de non-sense que se pareça: a linha evola da referência local e da prisão do tempo. São como mimos de coral, ou riscos de groselha, em que o precioso e o efêmero provocam espanto”.

Eloí Elisabete e Zenilde Durly são responsáveis pelo jornal de literatura infantil e juvenil “O Balainho”, uma publicação da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). “O Balainho” tem divulgado autores nordestinos que trabalham com a literatura infantil.

 Em 2003, Eloí foi vencedora do Concurso “Leia Comigo”, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, com a bonita história ”Não vá embora, Clarice!”, um relato ficcional que prende o leitor do inicio ao fim do texto.

Antonio Candido, no livro “Personagem de Ficção”, fala sobre o processo de criação de personagens e afirma que todo escritor se revela um pouco através de seus personagens. Eloí Bocheco coloca muito de sua vivência nessa poética história de Clarice, uma professora que faz um trabalho de leitura com as mulheres que varrem a rua e freqüentam a Praça XV. Não sabemos onde fica a Praça XV, pode ser em Curitiba, Rio, Florianópolis ou qualquer cidade do Nordeste brasileiro, mas a Praça XV do relato de Eloí é uma praça especial. É lá que a professora Clarice vai encontrar as mulheres que varrem a rua e começa o seu trabalho de ler histórias para aquelas mulheres de vida tão simples. O interesse pela literatura começa a crescer, de simples ouvintes elas passam a ser leitoras, mas chega o momento da partida de Clarice, e elas (as mulheres leitoras) fazem esse apelo comovente: “Não vá embora, Clarice! “

Beatriz em trânsito (Ed. Dimensão, 2006) recebeu vários prêmios no Brasil e até no exterior. O livro foi selecionado para o catálogo White Ravens, da Biblioteca de Munique, com crítica de Ninfa Parreiras. No Brasil, foi o vencedor do prêmio Casa da Cultura Mário Quintana (RS), e consta do Acervo Básico da FNLIJ (2006).  

Na entrevista, concedida à Assessoria de Imprensa da Secretaria de Educação e Cultura do Rio Grande do Sul, indagada a respeito do possível leitor de “Beatriz em trânsito”, a escritora respondeu: “é uma obra para todas as idades”.   

Aliando os dois lados de sua vida – professora/escritora, Eloí gosta de escrever sobre livros, leitura e professores. “Beatriz em trânsito” não foge dessa temática. Aqui vamos encontrar a protagonista, uma menina de 10 anos, que descobre o mundo através dos livros.

Beatriz é uma menina inteligente, mora com os avós e está sempre de mudança, não tem um pouso certo, daí o título do livro – “Beatriz em trânsito”, mas no meio dessas mudanças acontecem coisas interessantes, como conhecer vários amigos e, entre eles, o menino Samuel que anda em cadeiras de rodas e a menina Mariana, mais uma vez aparece uma professora – Guiomar – que cada semana traz uma novidade para a classe.  Além do armário cheiinho de livros, há o mural com textos escritos pelos alunos, textos que falam sobre medos, tristezas, alegrias, sonhos.

A maneira inovadora de a professora Guiomar ensinar, leva Beatriz a dizer: “A Guiomar é uma grande misturadora de aula e de vida”. (p.33)

Com sentimento e muito afeto, recebi o último livro de Eloí Bocheco – “Gaitinha tocou, bicharada dançou” (Ed. Paulinas, 2008). É um livro indicado para crianças que estão se alfabetizando. 

Antes de se encantar em passarinho, Elias José fez a apresentação deste livro com palavras cheias de fantasia e falou de forma carinhosa sobre a bruxinha Elisa, personagem sempre presente nos livros da autora catarinense.

“A bruxinha Elisa renova. É bruxa, criança e fada. Ela se envolve com a natureza, com árvores, peixes, pássaros e outros bichinhos. (...) Fica na memória afetiva do leitor, mesmo não sendo descrita pela autora, que prefere contar com a imaginação de quem lê.”

Ouso parafrasear Elias José e aposto: leiam “Pedras Soltas”, “ Não vá embora, Clarice!” “ Beatriz em trânsito” e as histórias da bruxinha Elisa. Se vocês começarem a ler os livros de Eloí Bocheco  vão gostar, é só começar. 

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