sábado, 27 de setembro de 2008

Uma triplice aliança

Uma tríplice aliança de escritores/leitores – Ana Maria Machado, Luiz Ruffato e Moacyr Scliar
(Neide Medeiros Santos – crítica literária FNLIJ/PB)
“Como leitores, começamos todos mais ou menos da mesma maneira, lendo um ou outro livro por indicação, por curiosidade ou por mero acaso. Mas, a partir de determinado momento, começamos por meio de nossas próprias decisões.”
(Luiz Ruffato. Literatura como alumbramento).
A editora SM convidou três bons escritores/leitores (Ana Maria Machado, Luiz Ruffato e Moacyr Scliar) para organizar uma antologia de textos curtos direcionados ao jovem leitor, e o resultado foram três excelentes livros – “Leituras de escritor” (Editora SM. Comboio de Cordas, 2008). Cada livro contém 14 pequenas histórias entremeadas por breves comentários sobre autor e obra selecionada.
A apresentação de Ana Maria Machado, traz o título “De memória, com afeto”. De maneira sucinta, Ana Maria fala sobre sua carreira de leitora voraz e confessa que prefere ler romance, ensaio e poesia e que relutou na escolha dos contos – “é um gênero muito difícil porque só admite a perfeição”. (p. 7)
A respeito do critério adotado para a seleção, a escritora explica que funcionou, inicialmente, a memória, acrescido depois da admiração. Fez questão de escolher os contos que foi lembrando como inesquecíveis.
“Literatura como alumbramento” é o título da apresentação de Luiz Ruffato que revela as dificuldades financeiras de sua família quando ele era criança e o pouco contato com os livros nessa fase de formação do leitor; era preciso ajudar o pai no orçamento doméstico, felizmente havia uma biblioteca na sua escola e este local, pouco freqüentado pelos alunos, foi o refúgio das suas primeiras leituras.
Ruffato acrescenta que depois as coisas mudaram, ele leu muito ao longo da vida e cita três autores selecionados para a antologia que se tornaram seus companheiros constantes: Machado de Assis, Anton Tchekhov e Luigi Pirandello.
“Do mito ao conto: o fogo das histórias” foi o título dado por Moacyr Scliar para sua apresentação. O escritor discorre a respeito de uma exposição fotográfica que circulou pelo mundo que se chamava “A família do homem”. Havia fotografias de vários lugares, mas uma chamava a sua atenção – numa pequena aldeia africana, à noite, ao pé de uma fogueira, um homem muito velho falava aos ouvintes, todos estavam sentados no chão. Era interessante observar como as pessoas pareciam atentas à fala daquele orador africano, encantados com o que ele transmitia.
Diante desse quadro descrito por Moacyr Scliar, perguntamos: O que estava fazendo aquele narrador? Certamente contando histórias para deleite do auditório. Era um “griot” ou “arokin” (um contador de histórias) que tinha poderes de encantar os ouvintes por meio da palavra.
Quanto ao critério da seleção dos contos, o organizador explica que foi uma escolha inteiramente pessoal e que é fanático por contos há muito tempo. Procurou reunir aqueles que mais o impressionaram, mais o comoveram.
Depois dessas considerações, vejamos os livros como um todo. Machado de Assis é uma unanimidade – ele está presente na antologia organizada pelos três escritores/leitores. Ana Maria escolheu o conto “Pai contra mãe”; Ruffato, “Conto de escola” e Scliar, um leitor que dialoga muito com Machado de Assis, selecionou “Missa do galo”.
Os textos vêm acompanhados de uma pequena biografia do autor e comentários sobre o conto apresentado. Os escritores/leitores têm uma maneira peculiar de apresentar os contistas e as observações sobre os contos são bem distintas.
Ana Maria Machado afirma que o conto, “A última folha”, de O. Henry, traz o ambiente cultural urbano do bairro de Greenwich Village, em Nova York, muito antes de se tornar uma atração turística. O. Henry revela certo olhar de ternura sobre suas personagens e, por meio de um “truquezinho no final do conto”, surpreende o leitor.
“Paco Yunque”, de César Vallejo, escritor peruano, integra a antologia de contos de Luiz Ruffato. Este texto foi extraído do livro “Escalas melografiadas” e, na época (1923), foi rejeitado pelos editores, hoje é leitura obrigatória nas escolas peruanas.
Qual teria sido o motivo tão forte para este conto ser rejeitado? “Paco Yunque” é a história de um menino maltratado por um outro menino poderoso e arrogante que lhe faz lembrar “todo o tempo sua função subalterna” (p. 104). É um texto de denúncia que deixa no leitor um sentimento de revolta e um desejo de mudança. Nos anos 20, do século passado, era considerado um conto subversivo.
Scliar, um apaixonado pela obra de Machado de Assis, escolheu um conto que encantou e encanta ainda todos os leitores. “Missa do galo” já proporcionou muitas releituras, recriações de escritores, professores e alunos.
Scliar considera-o um “conto clássico” cheio de insinuações e subentendidos. O clima envolvente da narrativa permanece inalterado, o passar dos anos não diminuiu o interesse pela trama bem urdida do seu criador.
Cada escritor/leitor selecionou 14 contos, perfazendo um total de 42. Dentro desse universo seleto, escolhemos um conto que representasse bem cada um dos organizadores da antologia.
O conto “A última folha”, por seu clima de mistério, seu caráter premonitório, condiz com Ana Maria Machado. Não foi uma escolha aleatória, não se deveu só a memória, houve uma empatia afetiva.
Ruffato apresenta, em seus textos ficcionais, personagens sofridas e abandonadas, sua prosa guarda semelhanças com a prosa graciliânica e “constrói seu texto com tintas políticas fortes”. Para representar Ruffato, nada melhor do que o conto “Paco Yunque”.
Vincular Scliar ao conto “Missa do galo” é quase uma obrigação. Scliar tem retrabalhado textos machadianos com tanta mestria que conseguiu prêmios como estudioso e pesquisador da obra de Machado de Assis. “O menino e o bruxo” e “Ciumento de carteirinha” atestam o que afirmamos.
Ainda uma palavrinha: a tríplice aliança não objetivou provocar nenhuma guerra, nenhuma defesa contra os inimigos, mas proporcionar uma agradável viagem através da boa leitura.

sábado, 20 de setembro de 2008

Livros à espera do leitor


Artigo - Livros à espera do (a) leitor (a)
Ó Bendito o que semeia/livros, livros à mão cheia/e manda o povo pensar!/ O livro caindo n´alma é gérmen - que faz a palma/ é chuva - que faz o mar. (Castro Alves)
Neide Medeiros Santos, Professora e Crítica Literária - FNLIJ/PB
Ana Maria Machado é uma escritora múltipla, escreve livros para crianças e jovens, romances e livros teóricos sobre leitura e literatura. "Balaio: livros e leituras (Ed. Nova Fronteira, 2007), objeto de nossa atenção, se enquadra na linha dos teóricos".
Na apresentação do livro, com o título "Começo de conversa", Ana Maria Machado afirma que é o quarto volume em que reúne textos de palestras e artigos esparsos, acrescido de seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, antes divulgado apenas na internet.
Marisa Lajolo, responsável pela orelha do livro, destaca dois momentos que considera muito belos nesse universo do livre pensar: o momento em que a literatura infantil brasileira é objeto de uma reflexão muito original, aproximando a literatura infantil brasileira da literatura latino-americana não infantil e a parte em que o conjunto de obras e de autores perpetua o imaginário e a identidade brasileira. "Balaio: livros e leituras" está dividido em 16 textos que se agrupam em quatro blocos: "A hora da escrita, Quem somos nós? Crescendo com os livros e Instantâneos".
No artigo "Pelas frestas e brechas: importância da literatura infanto-juvenil brasileira", resultado de uma palestra proferida na Academia Brasileira de Letras em maio de 2005, a ensaísta relata a sua participação no júri Hans Christian Andersen em 1978 e o grande volume de livros que leu durante o período de dois anos. Convém lembrar que este prêmio, na área da literatura infanto-juvenil internacional, corresponde ao Nobel da Literatura.
Investida, naquele momento, na função de crítica literária, Ana Maria Machado chegou à "súbita percepção iluminadora": a literatura infantil brasileira do século XX, por sua originalidade e qualidade, não ficava nada a dever aos livros dos autores estrangeiros. A conquista do prêmio Andersen, alguns anos depois por Lygia Bojunga Nunes e pela própria Ana Maria Machado, comprova que ela estava com razão - a "súbita percepção iluminadora" vinha revestida de um caráter premonitório.
Quais seriam os fatores que contribuíram para que a nossa literatura infanto-juvenil atingisse a sua maioridade? Não tivemos a tradição no século XIX de autores como Robert Louis Stevenson, Beatriz Potter, C.S. Lewis e outros nomes emblemáticos, no entanto a literatura infanto-juvenil brasileira do século XX despontava como uma das mais brilhantes e criativas.
E vem a resposta de quem entende do risco do bordado. Vários foram os fatores que motivaram o apuramento desse tipo de literatura, um deles pode ser atribuído à repressão política dos anos da ditadura militar. Heloísa Buarque de Holanda, em um número especial da revista "Tempo Brasileiro", com uma retrospectiva analítica sobre a década de 70, apresentou uma hipótese crítica de rara agudeza: os intelectuais brasileiros, pressionados pelo regime autoritário, saíram em busca de novas expressões, "de brechas" e surgiram a poesia do mimeógrafo, letras das canções e a literatura infantil.
A Revista Recreio, a criação da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (1969), a instituição de prêmios para livros na área de literatura infanto-juvenil contribuíram para a divulgação de novos escritores.
Ana Maria Machado não esquece a importância exercida por Monteiro Lobato, muito antes do boom da literatura infantil brasileira. Lobato sabia transitar do real para o fantástico com a naturalidade de um grande sábio, deu ênfase ao falar brasileiro coloquial e instigou, nas crianças, o amor à literatura clássica. Abriu o caminho para a futura geração de escritores.
Não poderíamos deixar de registrar nesse belo ensaio um aspecto ressaltado pela autora: "o essencial da literatura infantil não deve ser o infantil, mero adjetivo. Deve ser a literatura, isso sim, substantivo". (p. 120)
Outro texto que merece atenção é o discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, apresentado, pela primeira vez, em livro. O discurso começa e termina com poesia. Inicialmente, a autora improvisa uma canção à moda dos cantadores populares (oitava) e abençoa e agradece essa hora encantada. Na conclusão, apresenta o poema-canção de Chico Buarque de Holanda - "Tempo e artista", frisando que é necessário ter humildade e lembra "que a glória não passa de uma companheira das rugas e de um efeito do tempo que nos carrega". (p. 222)
Ana Maria Machado sucedeu, na ABL, a Evandro Lins e Silva, jurista e advogado consagrado no Brasil e grande amigo da escritora. Embora a cadeira tenha sido ocupada anteriormente por Luís Murat, Visconde de Taunay, Múcio Leão, Bernardo Elis, seu texto enfatiza a figura do jurista brasileiro e revela um profundo respeito e admiração pelo autor de "O Salão dos Passos Perdidos".
Há um fato relatado no discurso de posse que demonstra o grande apreço que a escritora tinha pelo jurista brasileiro. Em 1977, Ana Maria Machado foi processada, juntamente com seu editor, pelos herdeiros de Monteiro Lobato, que se sentiram atingidos por seu livro "Amigos Secretos" que homenageava, entre outros, o escritor paulista. Naquela ocasião, procurou André Martins, seu irmão e advogado para defendê-la e falou também com Técio Lins e Silva. Nessas idas e vindas aos escritórios dos advogados acabou conversando com Evandro Lins e Silva que se interessou pelo caso. Para se inteirar bem do assunto e do motivo da queixa dos familiares de Monteiro Lobato, Evandro Lins e Silva pediu o livro que Ana Maria havia escrito e depois lhe disse: "li-o com encantamento", rascunhou uma defesa brilhante, mas os advogados da editora preferiram entrar em acordo e a circulação do livro foi suspensa.
Cinco anos depois morre Evandro Lins e Silva. Ana Maria vai ao sepultamento e passou uma noite com um sono agitado, acordou de madrugada e lembrou-se de que sonhara com o advogado se despedindo dela e perguntando: "gostou da minha defesa?"
Para sua grande surpresa, no final desse mesmo dia, recebeu um telefonema que a deixou pensativa - os herdeiros da família tinham mudado de idéia e lhe comunicavam que o livro que escrevera poderia ser publicado e sua circulação restabelecida. Coincidência ou não, a pergunta do sonho de Evandro Lins e Silva tinha sua razão de ser. O fato merece uma explicação junguiana.
O discurso de posse de Ana Maria Machado traz a marca da afetividade, do carinho e da amizade que uniam jurista/escritora. É uma bonita peça literária que estava exigindo uma divulgação maior. A inclusão do discurso de posse no balaio de livros e leituras foi oportuna.
Se o (a) leitor (a) quiser saber mais sobre livros e leituras, não deixe de examinar o balaio - ele está cheio de comentários inteligentes à sua espera.

sábado, 6 de setembro de 2008

kafka um carteiro de bonecas


Artigo - Kafka - um carteiro de bonecas
"Só a inocência e a ignorância são Felizes, mas não o sabem". (Fernando Pessoa. O horror de conhecer. Segundo Tema, V. In: Poemas Dramáticos).
Neide Medeiros Santos, Professora e Crítica Literária (FNLIJ/PB)
O escritor Franz Kafka viveu uma experiência bem singular um ano antes de sua morte - passeando, certo dia, pelo parque Steglitz, em Berlim, encontrou uma menina chorando. Qual seria o motivo daquele choro? Dirigiu-se à pequena, indagou-lhe o porquê do choro tão desconsolado e ela lhe explicou que havia perdido uma boneca no parque. Para alegrar a menina, Kafka inventa uma história - a boneca não se perdera, ela estava viajando e resolve criar cartas imaginárias escritas pela boneca endereçadas à menina, transformando-se, assim, em um carteiro de bonecas.
Este é o pequeno resumo da história de Jordi Sierra i Fabra - "Kafka e a boneca viajante", Ed.Martins Fontes, 2008, traduzido por Rubia Prates Goldoni, com ilustrações em tons neutros de Pep Montserrat.
Com esta bonita e comovente história, junção de um fato real e muita imaginação, Jordi Sierra ganhou o Prêmio Nacional de Literatura Infantil e Juvenil em 2007, concedido pelo Ministério de Cultura da Espanha. O autor é natural de Barcelona e, nesta cidade, criou a Fundação Jordi Sierra i Fabra e a Fundação Taller de Letras para a América Latina, na Colômbia, onde desenvolve um trabalho com crianças e jovens visando estimular o gosto pela leitura.
Vamos ao encontro do carteiro de bonecas e falar um pouco sobre essa trama que envolve um escritor e uma menininha que se sente feliz por receber cartas de uma boneca.
Para escrever esta bonita história, Jordi Sierra i Fabra se baseou em depoimentos de Dora Dymant que conviveu com Kafka nos seus últimos anos de vida, recriou as cartas que Kafka escreveu para a menina Elsi, a dona da boneca Brígida desaparecida em um banco de um parque de Berlim. (O nome da menina e da boneca são criações de Jordi Sierra i Fabra).
Foram 21 cartas endereçadas à menina, escritas de várias partes do mundo. Na primeira, Brígida tinha viajado para Londres e fala dos passeios pelo rio Tâmisa, da visita ao Picadilly Circus, das caminhadas pela Trafalgar Square, até peças de teatro a boneca assiste.
Essas cartas vêm revestidas de ensinamentos para a vida, de conselhos, de frases poéticas.
A segunda carta vem de Paris e diante da pergunta da pequena:
"- O senhor pode ler para mim?" Vem a resposta: "- Claro" (p. 61)
E o narrador comenta:
"Nenhuma dúvida nem questionamento. Pelo menos essa era a parte do encanto infantil mais bem aproveitada pelos adultos: a credulidade". (p. 61)
As cartas vão chegando de lugares os mais distantes - Moscou, China, México, Colômbia, cruzam os mares, alargam os horizontes. Em duas semanas, foram catorze cartas. Mas, chega um momento que a boneca deseja descansar, ela viaja à Tanzânia e as coisas vão mudando pouco a pouco.
Se a história de uma boneca que escreve cartas condiz com o inverossímil, mais inverossímil se torna quando essa boneca se apaixona por um explorador da selva africana. É na Tanzânia que Brígida conhece um moço alto, bonito, chamado Gustav e o coração bate mais forte, ela está apaixonada e os dois vivem um grande e intenso amor.
E vem mais uma vez a voz do narrador:
"Franz Kafka permaneceu no parque, saboreando aquela sensação tão curiosa. Por um lado, a felicidade pelo trabalho bem-feito. Por outro lado, o prazer de seu ofício muito bem entendido. Era um alquimista de palavras e emoções, um mago da natureza humana." (p. 95).
Com o casamento da boneca, as coisas parecem que chegam ao fim, mas vem a surpresa final, Kafka compra e presenteia Elsi com uma linda boneca e os sonhos vão continuar. Até quando? Até a menina crescer e se apaixonar por um moço verdadeiro.
A boneca presenteada pelo carteiro de bonecas já vem com um nome. Adivinhem? Dora, a musa inspiradora de Kafka e sua companheira devotada.
Não poderia deixar de registrar esta passagem grávida de poeticidade que se encontra nas últimas páginas do livro. É o narrador que expressa o pensamento de Kafka através do discurso indireto livre: "Por que ele não encontrou um carteiro de bonecas quando era menino?
Por que sempre teve que enfrentar o pai?
Por que não havia bonecas viajantes na vida real?
A infância é o tempo de acreditar em bonecas. É na infância que existem os finais felizes. Mas são muito mais necessários na maturidade os carteiros capazes de receber cartas que só um louco é capaz de escrever" (p. 113-114).
Jordi Sierra i Fabra, o escritor/poeta catalão, conclui o livro explicando como surgiu esta história.
Kafka morreu no sanatório Kierling, perto de Viena, um ano depois desta história, estava com 41 anos de idade. Nunca se soube o nome da menina que perdeu a boneca nem tampouco foram encontradas as cartas escritas para a menina. O conhecimento desses fatos se deve à Dora Dymant que na época vivia com o escritor.
Klaus Wagenbach, estudioso da obra de Kafka, durante muitos anos procurou por essa menina nos arredores do parque, colocou anúncios nos jornais, foi tudo em vão.
E vem a justificativa do escritor Jordi (Jorge) para o leitor:
"Quanto a mim, permiti-me a transgressão: inventar essas cartas, terminar a história, dar-lhe um final imaginário. (...) O que aconteceu é tão belo que o resto carece de importância. A única coisa evidente é que aquelas cartas devem ter sido mais lúcidas que as recriadas por mim". (p. 125).
Não podemos comparar as cartas escritas pelo carteiro de bonecas e as cartas recriadas por Jordi. As de Kafka se perderam no emaranhado do tempo. Não vamos chorar pelo que se perdeu, resta-nos o consolo das bonitas cartas do escritor catalão