sábado, 30 de agosto de 2008

ELIAS JOSE NO CEU


Artigo - Elias José no céu
Toc, toc, toc...- Quem bate? - Sou eu, Elias José. - Entra, Elias José. Você não precisa pedir licença.(Diálogo intertextual com o poema de Manuel Bandeira - Irene no céu)
Neide Medeiros Santos, Professora e Crítica Literária (FNLIJ/PB)
Elias José, o poeta mineiro de Santa Cruz da Prata, partiu silenciosamente, sem tempo para despedidas, teve o mesmo destino de Augusto dos Anjos - uma pneumonia levou-o para o céu.
É difícil dizer quantos livros Elias José escreveu, foram muitos e muitos livros. Ultimamente vinha publicando livros dedicados à crítica poética e à leitura. "Poesia pede passagem: um guia para levar a poesia às escolas" (Ed. Paulus, 2003) recebeu o prêmio Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil em 2004. Em 2007, publicou "Literatura Infantil: ler, contar e encantar crianças" (Ed. Mediação).
Os livros teóricos mais recentes atestam a preocupação de um professor de literatura com o fazer poético. Elias José foi professor de Teoria da Literatura e Literatura Brasileira em Guaxupé (MG) e suas aulas deviam ser tão poéticas quanto os textos que escreveu para a meninada e para os adultos que têm alma de criança.
"Literatura infantil: ler, contar e encantar crianças" é direcionado para professores, pais e para aqueles que lidam com leitura e literatura em diferentes níveis. São nove artigos que transitam do universo infantil para o tom confessional. Dentro desse universo de nove textos, destacamos "Sobre canções e leituras" (7º. artigo) e o último -" Como me tornei um escritor".
"Sobre canções e leituras" (p.69-76) fala a respeito do programa "Sem Censura", apresentado por Leda Nagle, na TVE Brasil, no Rio de Janeiro e, de forma especial, uma homenagem que foi prestada à cantora Maria Betânia em janeiro de 2007, na passagem dos 60 anos da grande intérprete brasileira. Naquela ocasião, foi organizada uma mesa-redonda e estavam presentes pessoas envolvidas na carreira da homenageada - entre outros, o maestro Jaime Alem, Bibi Ferreira, a cantora Miúcha, a atriz Renata Sorrah e a professora Vânia Correa Dutra. Vale a pena relatar o trabalho desenvolvido por essa professora entre jovens moradores da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Depois que todos falaram, Betânia cantou e chegou o momento da fala da educadora. Vânia é professora de Filosofia em uma escola pública do Rio. Seus alunos são os moradores da periferia do bairro da Barra da Tijuca e nesse local ela desenvolve um projeto pedagógico sobre a cultura brasileira, apoiando-se no repertório de Maria Betânia. Como material didático utiliza o CD e o DVD que trazem o mesmo título "Brasileirinho". Através das músicas deste disco, que envolve poemas de Ildásio Tavares, Mário de Andrade, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Guimarães Rosa, Vinicius de Moraes e outros escritores, a professora conseguiu transformar suas aulas de Filosofia em maneiras diferentes de ler o mundo, sem o tradicionalismo das noções filosóficas.
Que belo exemplo essa professorinha nos dá! Utilizo o diminutivo de forma carinhosa, afetiva. Precisamos de outras Vânias para que o ensino de certas disciplinas se torne ameno e agradável. "Como me tornei um escritor" (p. 93-103) é um texto que relata, de modo bem simples, o percurso leitor/professor/poeta e vem a revelação:
"Tenho um carinho especial pelos livros de poesia infantil, pois sei que este é um gênero especial, que exige que o autor se torne criança e brinque com as palavras e com o imaginário, com toda liberdade. Escrevendo poesia para crianças, torno-me criança outra vez, faço vir à tona o menino que fui". (p.96).
Conhecendo bem os livros de poesia de Elias José, quando a revista Crescer nos pediu que selecionássemos os 30 Melhores livros de literatura infantil produzidos para crianças entre 2007/2008 não tivemos dúvida, incluímos o livro "Lua no brejo com novas trovas" (Ed. Projeto, 2007), ricamente ilustrado por Graça Lima. Este livro teve a 1ª. edição em 1987 e recebeu, naquela ocasião, o prêmio Monteiro Lobato de melhor livro de poesia para crianças, concedido pela União Brasileira de Escritores.
Muitos já ouviram a expressão popular: "a vaca foi pro brejo", mas o que seria uma lua no brejo? Só a leitura do livro pode nos fornecer alguma pista.
"Lua no brejo e novas trovas" contém 25 poemas. Canções e brincadeiras populares, como "História embrulhada" (atirei o pau no gato); "Acalanto" (boi da cara preta); "Coisas esquisitas" (a barata na careca do vovô); repetições de sons e trava-línguas "O pato", "O rei e o rato", não faltando poemas laudatórios ao mar e à sereia, todos integram esse universo poético encantador. Para concluir o livro, aparece uma seleção de trovas.
A bonita capa criada por Graça Lima apresenta um casal de sapos de mãos dadas, olhinhos fechados, sentados em uma pedra, localizados no meio da lagoa. Vaga-lumes e pontos luminosos (estrelas) dão um toque de brilho ao escuro do céu, mas o que nos chama a atenção é uma enorme lua prateada que toma grande parte da capa. Com esta expressiva capa, Graça Lima conseguiu captar a intenção do poeta - estamos diante de uma noite de lua no brejo.
Se hoje não desfrutamos mais da presença amiga do poeta Elias José, ficaram seus poemas que encantaram os leitores de ontem e, certamente, irão encantar os leitores de amanhã. Tem razão Drummond quando afirmou: "As coisas tangíveis/ tornam-se insensíveis /à palma da mão. /Mas as coisas findas, /muito mais que lindas, / essas ficarão". (Memória. In: Claro Enigma)

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Uma vida tecida de palavras


Uma vida tecida de palavras
Neide Medeiros Santos*
Tece, tece,tece, tece, Bem tecida essa cançãoUm a um, fio por fio, Como faz o tecelãoQue fabrica o seu tecidoDe cambraia de algodão. (Marcus Accioly. "Poemeto do Tecelão ou A Canção Tecida") **A trajetória literária de Arriete Vilela começou muito cedo, não importa a data da publicação do seu primeiro livro. No texto de teor autobiográfico, "Alma rendilhada, alma enrodilhada" (1), vamos encontrar a menina de olhar buliçoso a observar a avó fazendo rendas na almofada de bilros e, diante da fascinação do movimento ligeiro e preciso das mãos da avó, a “menina miúda” faz uma revelação: Avó, quando eu crescer, também quero fazer renda, mas não é de linha, não, é de papel. (2) E esse tem sido o trilhar da poeta, cronista, contista, ensaísta e romancista Arriete Vilela – tecer rendas de papel. A leitura dos poemas, contos, crônicas, memórias e romance de Arriete Vilela revela-nos uma escritora preocupada com a arte da palavra, com a tessitura do fazer poético. Se há recorrência temática, essa recorrência vem sempre revestida de uma roupagem nova, o bordado nunca é o mesmo, a palavra tecida adquire nuances diferentes. Arriete gosta de reescrever seus textos e elementos intratextuais se apresentam de forma reiterada. Edilma Bomfim (3), no livro A escritura do desejo, dissertação de mestrado sobre Fantasia e avesso, afirma que: "O recurso do fio da meada faz que o texto de Arriete seja tecido de tal forma que cada novo texto é a paráfrase do primeiro, ou melhor, dizendo; Fantasia e avesso é um intertexto do próprio texto, que se revela na intratextualidade do discurso."Sônia van Dijck, no ensaio "Arriete e o mergulho na palavra" (4), destaca que a produção espaçada de Arriete se deve a necessidade de tempo para amadurecer o texto, e complementa: "Quando um livro seu é entregue ao público, lá estão as palavras exatas, prenhes de polissemia." O professor e crítico literário Roberto Sarmento (5) faz uma observação sobre Fantasia e avesso que pode ser aplicada a outros livros de Arriete. Diz o crítico:
"O grande herói do texto de Arriete, que parece ser o amor, é, na verdade, a palavra. A fantasia e o seu avesso entregam-se, em todas as páginas, a uma luta de vaivéns, avanços e recuos. Todo o texto é a discussão acerca da palavra poética: pretextando falar do amor, o texto fala de si mesmo." (p.31. grifos do autor)Feitas essas considerações preliminares, caminhemos ao encontro do mais recente livro da autora – Ávidas paixões, áridos amores (6). Comecemos pela capa – fotografia de um mar sereno; galhos secos retorcidos que aparecem em primeiro plano e flores de vermelho intenso contrastando com o verde-azul do mar. Esse contraste das cores condiz com o título do livro. “Ávidas paixões” se associam a um desejo intenso, ardoroso, inflamado; “Áridos amores” remetem à dureza, algo seco, frio. O livro, como um todo, compõe-se de 40 poemas não nominados, apenas numerados; os poemas 35, 36, 37 e 38 foram pinçados do livro Vadios afetos. 36 poemas vêm antecedidos por epígrafes e uma epígrafe de Machado de Assis antecede a apresentação dos poemas. Machado de Assis, profundo conhecedor da alma humana, filosofa, com certo pessimismo, na epígrafe escolhida para abertura do livro: "Alguma coisa escapa ao naufrágio das ilusões". No que se refere à escolha das epígrafes, sentimos que foi um trabalho de garimpagem, a escolha acertada para cada poema. Uma breve amostragem dessas escolhas comprova o que afirmamos. O poema 25 traz uma epígrafe de Baudelaire: "O tempo é o obscuro inimigo que nos corrói o coração", e o primeiro verso do poema ratifica a epígrafe: O tempo des/const/rói a vida, e a 5ª. estrofe, formada apenas por um verso, é uma repetição compartilhada da desconstrução: O tempo nos tem des/const/ruído. O poema 38, publicado anteriormente em Vadios afetos, vem acompanhado de uma epígrafe de Mário Quintana: "Amar é mudar a alma de casa." Essa epígrafe se contextualiza, de forma mais evidente, na última estrofe:
E como não recomeçar o jogose, à maneira de Quintana,é o amor que muda a minha alma de casa?Há muito coisa ainda para dizer, mas isso exige um estudo centrado apenas nas epígrafes e há poemas que precisam ser descobertos, palavras que merecem ser contempladas mais de perto. No universo poético de Ávidas paixões, áridos amores, o "Poema 17", que vamos transcrever na íntegra, talvez seja o mais representativo do trabalho artesanal de Arriete Vilela com a palavra:
Poema 17
Não enxerguem um símbolo onde nenhum foi pretendido.Samuel Beckett
Não me interessa o lado direito do bordadoda minha escrita.
Prefiro emaranhar-me aos fiaposdo avesso que sou – em que o tecer, pelos repetidos caprichos, deixa de ser revelador. Não me interessam os registros, à esquerda do bordado, que parecem contar a históriaque os outros pensam ser a minha- e que não é - .
Prefiro pelejar-me nos esgarçamentosdas pontas que não foram devidamentearrematadas e em que ressoam vozes femininas,como se bisavó e avó, mãe e tia pudessem, enfim, reconhecerque se desperdiçaram em amores abrasadorese tirânicos. Aliás, sinto-me cansada da herança dessas mulherescujo bordado da própria vida deixou à mostracores desesperadas, ciúmes desnecessáriose afetos enrodilhados.
Por isso permaneço quietanas flores azuis do linho:só o que me interessaé a interioridadedo bordado. A epígrafe de Samuel Beckett é retomada em forma de versos na 3ª. estrofe do poema, quando o eu-lírico assim se expressa:
Não me interessam os registros, à esquerda do bordado, que parecem contar a história que os outros pensam ser a minha - e que não é -.
Muitas vezes o leitor quer atribuir certos registros como símbolos de uma vida, mas as palavras camuflam sentimentos, dores, afetos e amores. Tudo é e não é, como bem disse Guimarães Rosa. O direito do bordado, na sua aparência, é o lado revelador da verdade, por isso o eu-lírico prefere emaranhar-se nos fiapos do avesso, nas pontas que não foram devidamente arrematadas e permanecer oculta na interioridade do bordado. No início do nosso texto, falamos sobre a presença da intratextualidade nos poemas, contos e crônicas de Arriete Vilela. O "Poema 17" contém muitos elementos intratextuais. “Avesso”, “bordado”, “fiapos”, “tecer”, “afetos” são vocábulos reiterados em seus inúmeros livros. Arriete é uma tecelã que sabe, como nos versos de Marcus Accioly, tecer bem tecida uma canção. Na sua fábrica, ela produz tecidos de cambraia de algodão e borda as palavras em folhas de papel que são lançadas ao vento. Felizes são aqueles que conseguem apanhar algumas dessas folhas.
* Neide Medeiros Santos é ensaísta e crítica literária. ** "Poemeto do Tecelão ou A canção tecida" foi dedicado a Hermilo Borba Filho e publicado no Diário de Pernambuco, Recife, 16 jul. 1967.
NOTAS E REFERÊNCIAS
1. O texto "Alma enrodilhada, alma rendilhada" se encontra no livro Artesanias da palavra. Arriete Vilela et al. Maceió: Grafmarques, 2001, p. 21-22. Esse mesmo texto foi transcrito no livro Memórias rendilhadas: vozes femininas. Neide Medeiros e Yolanda Limeira (orgs.) João Pessoa: UFPB/ Ed. Universitária, 2006. p. 13-14.2. Essa citação está presente no texto "Alma enrodilhada, alma rendilhada", op.cit. 3. A dissertação de mestrado de Edilma Bomfim versou sobre o livro de Arriete Vilela Fantasia e avesso com o título A escritura do desejo. Cf: BOMFIM , Edilma Acioli. Maceió: EDUFAL, 2001, p. 56.4. DIJCK, Sônia van. Arriete e o mergulho na palavra. http://www.soniavandijck.com/arriete.htm. Este texto também foi publicado em Fabulação. Um novo tempo, João Pessoa, ano I, n.5, set.2003, p.12-14 e em O Jornal, Maceió, 12 out. 2003. 5. LIMA, Roberto Sarmento. Da palavra amor ao amor da palavra. In: Leitura. Revista do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade Federal de Alagoas, Maceió, n. 4, p. 9, jul.-dez. 1988.6. VILELA, Arriete. Ávidas paixões, áridos amores. Maceió: Grafmarques, 2007.

domingo, 17 de agosto de 2008


Pelos jardins Boboli - um canto de louvor à ilustração
"Arte não se compara: equipara-se". (Artur da Távola. Do livro: Liberdade de Ser).
Neide Medeiros Santos, Professora e Crítica Literária - FNLIJ/PB
Rui de Oliveira foi o ilustrador indicado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil para representar o Brasil e concorrer ao Prêmio de Ilustração IBBY 2008. O vencedor foi o italiano Roberto Innocenti que estará recebendo o Prêmio Hans Christian Andersen 2008 durante a cerimônia de abertura do Congresso IBBY em Copenhague, no domingo, 7 de setembro de 2008.
Rui de Oliveira não foi o vencedor, mas publicou um belíssimo livro que é um canto de louvor à ilustração - Pelos jardins Boboli: reflexões para ilustrar livros para crianças e jovens. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2008, 171p.
A escritora Ana Maria Machado fez a apresentação do livro e atesta que esta publicação dá partida a um processo de discussão e pensamento enriquecedor para autores e ilustradores de livros infantis. Laura Sandroni, crítica de literatura infantil, afirma que "Rui de Oliveira é um mestre da ilustração, com a capacidade técnica e a sensibilidade criadora necessárias para transitar com desenvoltura pelo universo da literatura e das artes plásticas e gráficas.".
A respeito do livro, a crítica carioca, assim se expressa:
"... um livro essencial para todos aqueles que desejam conhecer a história da arte de ilustrar".
Válida também é a opinião de Ciça Fittipaldi que conhece bem os meandros da ilustração:
"O amplo repertório de Rui de Oliveira, que abarca textos verbais e visuais das mais diferentes épocas e culturas, o consagra como um grande leitor e infatigável estudioso da arte".
Após essas considerações iniciais sobre o autor e seu trabalho com a ilustração, vamos navegar pelas páginas do livro e desvendar alguns mistérios escondidos.
Os jardins Boboli estão situados na parte posterior do Palácio Pitti, em Florença, caracterizam-se pela grande beleza e caminhar por esses jardins, na opinião de Rui de Oliveira, se torna uma recreação para o espírito.
"Pelos jardins Boboli" está dividido em cinco partes. Cada parte apresenta subdivisões que tratam, de forma específica, sobre problemas ligados à ilustração.
Na primeira parte do livro, Aspectos gerais da imagem, Aspectos conceituais e Aspectos constitutivos (p. 29-71), Rui de Oliveira chama a atenção do leitor para a distinção entre ilustração e pintura.
A ilustração possui sua própria história. O ilustrador utiliza, em seu trabalho, o mesmo instrumental técnico e até o mesmo suporte do pintor - aquarela, acrílica, guache, tela. Esses aspectos configuracionais se assemelham a uma pintura, mas existem diferenças fundamentais entre a ilustração e a pintura.
A ilustração sempre narra uma história, está vinculada à temporalidade dos fatos. A pintura pode ser narrativa ou não. A ilustração é sempre figurativa, a pintura é variável nesse aspecto.
A pintura e a ilustração possuem diferentes maneiras de fruição no que tange às qualidades e propostas estéticas. Embora a pintura seja reproduzida em livros de arte, a sua apreciação integral se verifica por meio da contemplação da obra original em museus ou galerias. Diferente da pintura, a ilustração é reproduzida em livros de forma múltipla.
Na segunda parte, vem a explicação sobre os jardins Boboli e Rui de Oliveira, além de excelente ilustrador, se revela poeta quando procura justificar o título do livro. Confirmemos:
"Para compreender melhor a ilustração de livros para crianças e jovens, temos que retomar metaforicamente a nossa caminhada do início pelos jardins Boboli - uma experiência seqüencial que iniciou e dá nome a estes estudos. É preciso que nos encantemos com os seus chafarizes, grutas, ninfas e fonte de Netuno, ou com a gruta de Buontalenti, onde nossa caminhada se encerrará." (p.78).
Parece que estamos diante de um texto de Bachelard descrevendo a bela região da Champagne, povoada de rios e várzeas.
A terceira parte é dedicada à leitura estrutural de uma ilustração. A quarta e quinta partes falam, respectivamente, sobre "Teofania e ilustração", Análise dos valores formais na ilustração: o tom, O silêncio das imagens e Como vejo a arte de ilustrar."
No texto que produziu para concorrer ao Prêmio de Ilustração 2008, Hans Christian Andersen, que aparece como uma espécie de prólogo do livro, Rui de Oliveira faz afirmações muito sábias, e destacamos algumas:
"Penso que o ato de criação de imagens se origina não diretamente na palavra, mas no entre palavras". (p.149).
"O texto é a origem de tudo. É impossível ilustrar sem gostar de literatura. É impossível ilustrar sem gostar de ler." (p. 149).
Por fim, ele diz:
"O que pretendo, diante de um texto para ilustrar, não é ser mais que o escritor, é apenas não ser uma extensão dele em forma de imagens. (p.153).
O livro não termina com as Referências Bibliográficas, Referências de Imagens Citadas e o Índice Remissivo, culmina com um texto sintético que analisa o processo criativo e original desse livro.
Ana Sofia Mariz, designer, é responsável pelos esclarecimentos que fecham o livro de Rui de Oliveira.
Arno é a família tipográfica que serviu como unidade mínima de design do livro, é a letra do corpo de texto e Arno é o nome do rio que banha a cidade de Florença, onde se localizam os Jardins Boboli.
A página dupla como unidade do fólio, o uso do parágrafo francês, com recuo inverso ao tradicional, a presença das versais romanas nas capitulares, os florões para indicação de parágrafos, as explicações colocadas ao lado do texto que formam uma leitura paralela, todas essas minúcias demonstram o cuidado na execução desse livro.
Para coroar o repertório visual do livro, a editora Nova Fronteira e os organizadores do livro tiveram acesso "aos preciosos cadernos e moleskines" de Rui de Oliveira. Esses cadernos e moleskines são, na sua grande maioria, desenhos de viagens do artista, idéias, contemplações, pensamentos e sonhos transformados em desenhos.
Quem não é pintor ou entendido em artes plásticas poderá estranhar o termo "moleskines". O que são moleskines?
Moleskines são cadernos de desenho utilizados pelos artistas para anotações, diários, rascunhos e desenhos.
No texto "Desenhar por desenhar", Rui de Oliveira explica que o hábito de usar moleskines remonta a seu tempo de estudante, tanto no Brasil, no caso da Escola de Belas-Artes, (USP), como durante os 6 anos que estudou na Hungria, no Instituto Superior de Artes Industriais.
São palavras de Rui:
"Os moleskines são verdadeiros diários em forma de imagens, cartas visuais endereçadas a mim mesmo".
O livro aparece ricamente ilustrado da cor sanguínea, que corresponde ao lápis de mesmo nome usado por Rui. Ana Sofia Mariz lembra que os artistas da renascença utilizaram esse material em seus trabalhos artísticos. A cor sanguínea também lembra os telhados florentinos.
Abrimos um parêntesis para lembrar que o pintor paraibano Hermano José utilizou também, com muita mestria, em seus desenhos, a cor sanguínea.
É impossível destacar todos os aspectos da arte da ilustração tão bem analisados por Rui de Oliveira. É livro para ser lido, admirado, divulgado e guardado com muito carinho. É uma verdadeira obra de arte.
Afirmamos que o ilustrador tem alma de poeta e citamos suas palavras de encantamento diante dos jardins Boboli. Se Bachelard é um filósofo/poeta, Rui de Oliveira é um ilustrador/poeta.
O leitor duvida? Leia este bonito texto:
"Vemos aquilo que sonhamos e queremos ver, pouco importa o que estamos vendo". (In: Desenhar por desenhar).
Na Nota do Editor, Daniele Cajueiro afirma que este livro é um estudo inédito e sem precursor representativo em nosso país e que possibilita a divulgação dessas reflexões para uma imensa gama de leitores - estudantes, professores, especialistas, editores, pais, etc.
Até Daniele Cajueiro foi vítima do vírus da poeticidade do livro quando diz:
"Rui de Oliveira cuidou destes jardins como hábil jardineiro, respeitando a delicadeza e a força de cada flor". (p.11)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008


FRIDA KAHLO: una vida dolorida

( Neide Medeiros Santos)

Un poco de la vida de Frida Kahlo.

Frida Kahlo nació en 6 de julio de 1907, en Coyaoacán, suburbio de la ciudad de Méjico, era hija de un judío-húngaro Guillermo Kahlo y de madre indígena-mejicana, Matilde Calderón y González. Frida era la cuarta hija de la familia Kahlo/Calderón.
La vida de Frida fue marcada por dolores. Cuando tenía seis años fue acometida de polio y tuvo una recuperación lenta, ella permaneció en casa por nueve meses. La enfermedad la hizo una niña solitaria y buscó los diseños y la pintura en este período de convalecencia. Su padre era fotógrafo y le gustaba sacar fotos de la familia y fue ese ambiente familiar, la enfermedad, la soledad que proporcionó a Frida la incursión por la pintura.
Cuando niña, Frida creó una amiga imaginaria que se llamaba también Frida Kahlo. Los autorretratos de las dos Fridas irán acompañar toda la pintura de la artista.
A los dieciocho años, otro facto marcará para siempre su vida – un accidente con el autobús cuando volvía de la escuela. Este grave accidente dejó muchas secuelas, Frida se quedó muy enferma.
Algunos años más tarde, conoció Diego Rivera, veinte años mayor que ella y ya un reconocido pintor mejicano. El gusto por la pintura, la manera descompromisada de ver la vida, los mismos ideales políticos los aproximaban y vivieron un intenso y grande amor, pero para Frida fue también un amor doloroso pues Rivera era inconstante y tuve un caso amoroso con la hermana de Frida, eso la dejó muy deprimida. La separación fue inevitable, aún después se reconciliaron y volvieran a se casar en la cuidad de San Francisco, en Los Estados Unidos.
Hube un momento que Frida así se expresó: “sólo deseo tres cosas: vivir con Diego, continuar a pintar y pertenecer al Partido Comunista.
Frida murió en 1954, estaba con 47 años, Rivera murió tres años después u la casa donde vivían hoy es el Museo Frida Kahlo.





La pintura de Frida Kahlo: el reflejo de su vida

Frida Kahlo, pintora mejicana, retrata en sus cuadros su propia vida. La grande cuantidad de autorretratos es un reflejo de su soledad, necesitaba compañía. La creación de una amiga imaginaria, fruto de su fértil imaginación infantil, acompañará los autorretratos en la vida adulta.
En la primera fase pictórica, Frida presenta, en sus cuadros, el universo mejicano, con colores fuertes y vibrantes, sus tipos característicos, una pintura que se aproximaba del arte naïf. Después se volvió para una pintura de trazos surrealistas.
Hay que se destacar siempre en sus cuadros la pintura figurativa, los personajes femeninos víctimas de sufrimientos físicos. Frida no podría ocultar sus dolores y revelaba todo eso en su pintura.
La fuerte personalidad de Frida se manifiesta en su pintura, aún casada con Diego Rivera, el grande muralista mejicano, no se dejó influenciar por la pintura de su marido, tenía su propio estilo. Compartía con los ideales políticos de Rivera, los dos pertenecían al Partido Comunista, pero en sus cuadros predominaban los retratos interiores del alma, los sufrimientos físicos, encuanto el pintor se volvía para los temas sociales del Méjico y del mundo.
Su obra pictórica puede ser resumida en tres palabras: sangre, sudor y lágrimas.
Sangre representa sus dolores físicos: el polio, el accidente, los abortos.
Sudor, su obstinación por la pintura, su capacidad de superación.
Lágrimas, sus desilusiones amorosas, la traición de Rivera, la frustración de no tener hijos.
Frida Kahlo hoy es considerada una de las mejores pintoras del siglo XX y sus cuadros se encuentran en los grandes museos da la Europa, Estados-Unidos y de la América del Sur.
En Méjico, hay la Casa Azul, morada de Frida y Diego Rivera, hoy museo Frida Kahlo.
En 2007, se conmemora el centenario de nacimiento de Frida Kahlo, una grande mujer, una pintora original, de trazos vigorosos y fuerte personalidad.
Saludamos Frida Kahlo por su pintura, por todo que ella representa para los latinos de la América del Sur.

sábado, 9 de agosto de 2008

HISTORIAS TECIDAS EM SEDA, PINTURA ऐ MUSICA


Histórias tecidas em seda, pintura e música.
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária – FNLIJ/PB)

Que meu conto seja belo e que se desenrole como um longo fio.
(Gislayne Avelar Matos. A Palavra do contador de histórias).

Contar e ouvir histórias são atividades muito antigas. As narrativas orais estão presentes na gênese de toda literatura e, em particular, na literatura infantil. Se fizermos uma retrospectiva das antigas literaturas do mundo oriental e ocidental, iremos encontrar o hábito de contar histórias como uma forma de entretenimento. Adultos e crianças se reuniam em torno das fogueiras para ouvir histórias.
Quando se fala em contar e ouvir histórias, vem logo à nossa mente a figura do contador de histórias. Walter Benjamin (1994) considera esse narrador “o primeiro narrador verdadeiro”.
Um bom exemplo de “narrador verdadeiro” é a figura de uma avó, contadora de histórias. Ela está presente no universo infantil brasileiro e nos países e continentes do além-mar (África, Europa, Américas, China, Japão). Monteiro Lobato quando criou o sítio do Pica-pau Amarelo criou também duas excelentes contadoras de histórias: vovó Benta e tia Nastácia. A primeira contava histórias de fatos mitológicos e adaptações dos clássicos universais, como fez com Dom Quixote; tia Nastácia trazia histórias do folclore brasileiro e adaptações de contos tradicionais europeus.
Fiel a essa tradição, Lúcia Hiratsuka apresenta, no livro Histórias tecidas em seda (Ed. Cortez, 2008) três contos de origem japonesa contados por sua avó. São contos reescritos, transfigurados pela escritora que é responsável também pelas bonitas ilustrações, Convém ressaltar que, em 2008, este livro recebeu o Prêmio FNLIJ Figueiredo Pimentel – O Melhor Livro Reconto.
Antes de tecermos comentários sobre Histórias tecidas em seda, vejamos um depoimento da escritora registrado no texto – O Chão de Asahi: um retrato familiar. Nesse depoimento, a escritora fala sobre seus avós de forma muito carinhosa. Ela diz no seu relato:
Meus avós chegaram ao Brasil, Porto de Santos, em 1925 e se fixaram no noroeste de São Paulo.
A avó sempre foi uma excelente contadora de histórias e o avô gostava de fabricar móveis, utensílios de madeira e brinquedos. Certa vez, Lúcia perguntou a avó se gostaria de voltar ao Japão e ela respondeu:
Acho que não vou reconhecer mais o lugar que eu nasci, fica na minha memória, continua do jeitinho que eu nasci. Será um eterno furusato (terra natal, em japonês).
Lúcia Hiratsuka nasceu em uma região do interior de São Paulo, conhecida como Asahi que, em japonês, significa “sol da manhã”. Quando contava 10 anos, mudou-se para Duartina considerada a “capital da seda”. Mais tarde, transferiu-se para São Paulo e estudou Belas Artes.
Em 1988, esteve no Japão e durante um ano fez curso de aperfeiçoamento em ilustrações de livros infantis na Universidade de Educação de Fukuoka. Atualmente, além de escritora e ilustradora, é professora de Artes na cidade de São Paulo.
Em entrevista concedida a Marcelo Maluf, no Labirinto do Sótão, quando o entrevistador perguntou se as histórias que ela contava eram inspiradas na sua própria vida, ela respondeu:
A história precisa se tornar independente, ter vida própria.
Depois de conhecer um pouco da vida de Lúcia Hiratsuka, vamos examinar o livro que ganhou o prêmio FNLIJ, na categoria Reconto.
O título do livro condiz com a própria tessitura verbal das histórias e com a leveza e transparência das ilustrações. Os contos, na pena versátil de Lúcia e, na companhia de seu pincel mágico, adquirem independência e vida própria.
Histórias tecidas em seda se compõe de três contos: O pássaro do Poente, Hachikazuki e Tanabata. Nas páginas finais do livro, o leitor encontra informações da autora sobre as histórias e um pequeno glossário com explicações a respeito das palavras em japonês que aparece no decorrer dos contos.
O primeiro, O Pássaro do Poente, está intimamente ligado ao contato com a natureza. O decorrer do tempo vem marcado pelas estações do ano e o ato de tecer é o motivo condutor do conto. Gratidão, ambição e curiosidade permeiam o inicio, meio e o fim da história.
O segundo, Hachikazuki, estabelece uma forte ligação entre mãe e filha. Ao morrer, a mãe deixa um objeto para a filha que lhe parece um incômodo, mas é uma espécie de arma protetora. Este conto segue um ritual de iniciação e a filha terá que percorrer muitos caminhos até encontrar a verdadeira felicidade.
O último, Tanabata, é considerado uma lenda e tem sua origem na China. É a história de uma “tennin”, um ser divino, celestial, que mora acima das nuvens e que se apaixona por um ser humano. Este conto liga-se à festa que acontece todo dia sete de julho no Japão – Tanabata. Nesta data, as ruas e praças ficam enfeitadas com ramos de bambus para comemorar o Festival das Estrelas, é o dia do encontro de uma “tennin” com o seu amado.
Os três contos apresentam uma linguagem poética e musical. As ilustrações são leves, cheias de transparências, ricas em detalhes e de grande beleza cromática. Existe um perfeito diálogo entre o texto verbal e o pictórico, acrescido de referências à música e à poesia. Linguagem poética, pintura e música trilham o mesmo caminho. A beleza desses contos pode ser associada à Sonata ao Luar de Beethoven. Um quadro de Nakajima completaria o cenário.
Após a leitura do livro surge a pergunta: o que é mais bonito – o texto verbal ou as ilustrações? Fica difícil responder.
Nota: A escritora Lúcia Hiratsuka estará presente hoje, à tarde, na IV Feira Cultural Japonesa no Espaço Cultural, às 17h00. Nessa ocasião, irá falar sobre as suas atividades de escritora e ilustradora de livros infantis e dará autógrafos do livro “Histórias tecidas em seda”.

nas trilhas da literatura

difundir a boa literatura produzida para crianças e jovens no Brasil.